Quem disse que lugar de mulher não é na oficina de automóveis? Pois saiba que mulheres representam 35% do total de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) válidas no país e, segundo o Denatran, em 2017, elas demandaram 46% do atendimento em oficinas mecânicas. Então, porque não unir mulher e mecânica? E ainda oferecer espaço para mulheres trans nessa empreitada? É isso que um projeto social batizado de "Elas Podem" tem oferecido à cidade de Campinas e região, em São Paulo. A inciativa foi contemplada no Edital 2022 da Fundação Toyota do Brasil e recebe o apoio do Sebrae.
Paulistana, do bairro da Brasilândia, na zona Norte de São Paulo, Rebecca Menezes sempre se inspirou no pai Saulo e o avô Cláudio, ambos mecânicos. Desde pequena ela gostava de carros e de andar de bicicleta.
“Não sei se posso dizer que queria ser mecânica desde criança, mas era uma área que já me interessava.”, diz a jovem que chegou a trabalhar com Confeitaria, um outro hobby, mas resolveu fazer a transição de carreira.
Aos 17 anos, ficou sabendo da Escola do Mecânico – edtech de impacto social que forma mecânicos e mecânicas – e começou o curso básico de Mecânica. “Depois fui fazendo outros cursos específicos de elétrica, injeção, suspensão”. Hoje, se especializa em curso técnico de mecânica automotiva e é funcionária da empresa PneuStore.
Mas nem todas as mulheres tem as condições de Rebecca para se especializar, conquistar uma carreira dos sonhos e independência financeira. Pensando nisso, surgiu o projeto Elas Podem, que qualifica mulheres cis e trans, com mais de 18 anos para atuar nesse segmento.
O curso é gratuito, com ajuda financeira para o deslocamento das alunas até as aulas ao longo dos 8 meses. O projeto foi pensado pela Associação de Assistência Social São João Vianney, e conta com oficinas de mecânica automotiva oferecidas pela a Escola do Mecânico, e de Gestão e Empreendedorismo, oferecidas pelo SEBRAE Campinas.
“Para além de qualificar mulheres, é preciso fornecer as ferramentas para que elas sejam absorvidas pelo mercado de trabalho e consigam a tão sonhada recolocação profissional” , ressalta Viviane Mansi, presidente da Fundação Toyota do Brasil.
Na visão de Sandra Nalli, dona da Escola do Mecânico, é necessário encorajar mulheres a partir de depoimentos de outras que tiveram sucesso nesse setor, e “mostrar que são capazes de estarem onde quiserem”. Mas, para essa trajetória acontecer é importante dar oportunidade.
A executiva diz que, a partir de 2014, a participação das mulheres aumentou no setor e, hoje, elas representam 10% do total de alunos da escola, e isso é muito positivo.
Os encontros do projeto Elas Podem também são momentos de trocas importantes, com temáticas como empoderamento, igualdade, autoestima, saúde da mulher e etiqueta no trabalho, além de promover também a criatividade e informar sobre leis e direitos das mulheres cis e transgêneros.
Ainda, como forma de minimizar a vulnerabilidade, as participantes são acompanhadas pela Assistente Social e Psicóloga da Associação, com profissionais que prestarão apoio para encaminhamentos diversos, cesta básica, acesso ao bazar de roupas e outros serviços que se mostrarem necessários.
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