A semana começa tensa na China, onde no final de semana ocorreram manifestações populares em várias regiões contra a política de “covid zero” imposta pelo governo chinês há quase 3 anos. Os principais índices das bolsas de valores chinesas registraram fortes quedas na manhã desta segunda-feira (28).
Como a economia chinesa tem um enorme impacto sobre o estado da economia mundial, as preocupações com o fôlego dessa onda de protestos pode também afetar negativamente as expectativas econômicas e financeiras internacionais nesta semana.
Em Xangai, uma cidade de mais de 25 milhões de pessoas que sofreu um confinamento de dois meses este ano que causou escassez de alimentos, centenas de pessoas marcharam em silêncio pelo centro.
Uma testemunha disse à agência de notícias France Presse que os manifestantes mostraram folhas de papel em branco – um gesto que se tornou um símbolo de protesto contra a censura na China – e flores brancas.
A polícia chegou logo depois e os dispersou, disse a testemunha, que pediu anonimato.
Várias testemunhas afirmaram que a polícia da Xangai, que não quis fazer declarações à AFP, deteve várias pessoas.
À noite, foram implementadas fortes medidas de segurança no local. Dezenas de policiais com coletes amarelos isolaram as ruas onde ocorreu o protesto, enquanto outros policiais pediram que as pessoas deixassem a área.
Por volta da meia-noite (hora local), a situação já tinha se acalmado, embora ainda permanecessem no local centenas de agentes e dezenas de viaturas das forças de segurança.
Vídeo: “Libertem o povo”. Protestos na China pedem o fim do regime de Xi Jinping (O Público)🚥
Horas antes, uma multidão se reuniu perto da rua Wulumuqi – o nome em mandarim da cidade de Urumqi – com pessoas gritando “Xi Jinping, renuncie, renuncie!” em uma rara demonstração de rejeição ao presidente chinês, de acordo com um vídeo divulgado nas redes sociais e geolocalizado pela AFP.
Em Urumqi, na região de Xinjiang (oeste), dez pessoas morreram em um incêndio na quinta-feira. O incidente gerou indignação nas redes sociais, uma vez que os confinamentos prejudicaram o resgate das vítimas.
Na parte da noite, entre 300 e 400 pessoas se reuniram nas margens de um rio em Pequim.
Alguns gritaram: “Somos todos Xinjiang! Vamos, povo da China!”
Jornalistas observaram a multidão cantar o hino nacional, enquanto uma fila de carros da polícia estava do outro lado do canal.
Protestos também foram organizados na cidade de Wuhan, no centro do país, onde foram detectados os primeiros casos de coronavírus.
Lá, segundo vídeos transmitidos ao vivo nas redes sociais, uma multidão indignada se manifestou.
Em Pequim, mais cedo, centenas de estudantes da prestigiosa Universidade Tsinghua manifestaram-se no campus, de acordo com uma testemunha ocular e vídeos postados online.
“Isso não é uma vida normal, estamos fartos. Nossas vidas não eram assim antes”, exclamou um palestrante.
Na Universidade de Pequim, perto da Universidade de Tsinghua, também foi realizada uma vigília em memória das vítimas do incêndio de Urumqi.
De acordo com um estudante que participou, os protestos começaram na noite de sábado e entre 100 e 200 pessoas se reuniram.
“Ouvi gritarem: ‘não aos testes de covid, sim à liberdade'”, disse, com imagens e vídeos que corroboravam os fatos.
De acordo com outras gravações, houve manifestações em Nanquim (leste), bem como em Xian, Wuhan (centro) e Cantão (sul), mas a AFP não conseguiu autenticar as imagens.
Os protestos acontecem em meio ao cansaço da população devido à estratégia do governo de tolerância zero com a covid.
A China é a última grande economia a manter a estratégia “covid zero”, com confinamentos, quarentenas extensas e testes em massa para erradicar as fontes de contágio assim que elas aparecerem.
Neste domingo, a China registou 39.506 infeções locais de covid-19, um número recorde para este país de 1,4 bilhão de habitantes.
A rede de televisão britânica BBC disse que a polícia chinesa agrediu e deteve por várias horas um dos seus jornalistas que acompanhavam os protestos em Xangai.
(com AFP)
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