Diante das contraofensivas relâmpago das forças ucranianas, que provocaram o recuo do exército russo, Putin optou por uma escalada no conflito, com uma medida que abre o caminho para o envio de mais militares russos à Ucrânia.
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Após o anúncio, na terça-feira, sobre a organização de “referendos” de anexação de quatro regiões do leste e do sul da Ucrânia a partir de sexta-feira (23), as declarações do presidente russo marcam uma mudança no conflito, iniciado em 24 de fevereiro.
“Considero necessário apoiar a proposta (do ministério da Defesa) de mobilização parcial dos cidadãos na reserva, aqueles que já serviram (…) e que têm experiência pertinente”, declarou Putin em um discurso gravado e exibido nesta quarta-feira na televisão.
“Estamos falando apenas de uma mobilização parcial”, insistiu o presidente russo. Nos últimos dias, os rumores sobre uma mobilização geral provocaram preocupação entre muitos russos.
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O ministro da Defesa do país, Serguei Shoigu, explicou que a ordem envolve 300.000 reservistas, o que, em suas palavras, representa apenas “1,1% dos recursos que podem ser mobilizados”.
A ordem é efetiva a partir desta quarta-feira (21), segundo o presidente russo. O decreto foi publicado pouco depois da exibição do discurso no portal do Kremlin.
Mikhailo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ironizou a medida.
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“Tudo isto continua seguindo de acordo com o plano, certo? A vida tem um grande senso de humor”, escreveu no Twitter.
“210º dia da ‘guerra de três dias’. Os russos que pediam a destruição da Ucrânia acabaram com: 1. Mobilização. 2. Fronteiras fechadas, bloqueio das contas bancárias. 3. Prisão por deserção”, acrescentou Podolyak.
A embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Bridget Brink, afirmou que a medida representa um “sinal de fraqueza” de Moscou, que precisa lidar com uma escassez de militares em sua ofensiva na Ucrânia, que esta semana completa sete meses.
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O Reino Unido seguiu a mesma linha. O secretário britânico de Defesa, Ben Wallace, afirmou que a decisão de Putin mostra que sua ofensiva “está falhando” e destacou que “a comunidade internacional está unida, enquanto a Rússia está virando um pária global”.
“Não é um blefe”
Putin atacou mais uma vez os países ocidentais, que segundo ele “superaram todos os limites em sua política agressiva” e de querer “enfraquecer, dividir e, no final das contas, destruir” a Rússia.
“Também fizeram chantagem nuclear […] Gostaria de recordar aos que fazem este tipo de declaração que nosso país também possui vários meios de destruição, alguns deles mais modernos que os dos países da Otan”, declarou o presidente russo.
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“Utilizaremos todos os meios disponíveis para proteger a Rússia e o nosso povo”, destacou. “E estou dizendo ‘todos os meios’ […] Isto não é um blefe”, insistiu.
O ministro da Defesa afirmou que Rússia “não luta tanto contra a Ucrânia quanto contra o Ocidente”.
As forças russas sofreram diversos reveses nas contraofensivas ucranianas nas regiões de Kherson (sul da Ucrânia) e de Kharkiv (nordeste), onde os russos foram obrigados a ceder muito território.
Shoigu anunciou que o exército russo registrou as mortes de 5.937 soldados desde o início da ofensiva, um balanço oficial muito superior ao anterior, mas que continua muito abaixo das estimativas ucranianas e ocidentais, que citam dezenas de milhares de baixas.
“Pseudoreferendos” de anexação
Os combates e bombardeios prosseguiam nesta quarta-feira e as autoridades ucranianas acusaram a Rússia de atacar novamente o complexo da central nuclear de Zaporizhzhia, no sul do país, a maior da Europa.
Na terça-feira, as autoridades das regiões separatistas ou que estão sob ocupação na Ucrânia anunciaram “referendos” de anexação à Rússia de 23 a 27 de setembro.
As votações, parecidas com a que formalizou a anexação da península da Crimeia pela Rússia em 2014, acontecerão nas regiões de Donetsk e Lugansk, que formam a bacia do Donbass (leste), e nas regiões ocupadas de Kherson e Zaporizhzhia, no sul.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, minimizou os anúncios e chamou as votações de “pseudoreferendos”.
(com AFP)