O presidente da Rússia, Vladimir Putin, se apresentou, na noite desta segunda-feira (26), como garantidor da paz na Rússia, ao assegurar que evitou um banho de sangue em sua primeira declaração pública desde a breve rebelião do Grupo Wagner, cujo líder, Yevgeny Prigozhin, disse que o motim tinha como objetivo salvar a milícia, e não tomar o poder.
“Desde o começo dos acontecimentos foram tomadas medidas seguindo minhas instruções diretas para evitar um grande derramamento de sangue”, disse Putin durante um discurso televisionado, no qual destacou que o Ocidente e a Ucrânia queriam “um resultado fratricida”.
Putin acrescentou que os combatentes do Grupo Wagner devem se unir ao Exército ou partir para Belarus.
“Eles têm a possibilidade de continuar servindo à Rússia com um contrato com o Ministério da Defesa ou outros órgãos encarregados do cumprimento das leis ou retornar para suas famílias e entes queridos […] Quem quiser pode ir para Belarus”, disse Putin.
Depois de sua fala, o presidente russo se reuniu com seus principais funcionários de Segurança, anunciou o Kremlin.
“Vladimir Putin está em uma reunião de trabalho” com o procurador-geral, Igor Krasnov; o ministro do Interior, Vladimir Kolokoltsev; o ministro da Defesa, Sergei Shoigu; o diretor do FSB [serviço federal de segurança], Alexander Bortnikov, e o chefe da Guarda Nacional, Viktor Zolotov, entre outros, disse o porta-voz presidencial, Dmitry Peskov, citado pela agência estatal Ria Novosti.
Pouco antes, o presidente americano, Joe Biden, assegurou que o Ocidente “não teve nada a ver” com a rebelião abortada do Grupo Wagner.
“Convoquei nossos aliados-chave em uma chamada por Zoom”, disse Biden a jornalistas.
“Concordamos em que tínhamos que nos assegurar de não dar a Putin nenhuma desculpa […] para responsabilizar o Ocidente e a Otan por isso”, afirmou.
“Deixamos claro que não estávamos envolvidos. Não tivemos nada a ver, foi um problema dentro do sistema russo”, acrescentou.
Putin agradeceu aos russos por sua “resiliência”, sua “unidade” e seu “patriotismo”, e disse que “esta solidariedade civil mostrou que toda chantagem […] está fadada ao fracasso”.
Ele voltou a acusar o líder do Grupo Wagner, sem citá-lo, de ter “traído seu país e seu povo” e de “mentir” para seus homens.
Em mensagem de áudio, Prigozhin negou nesta segunda que quisesse tomar o poder na Rússia e justificou sua rebelião afirmando que queria salvar sua organização e pôr em evidência os “graves problemas de segurança” no país.
As autoridades russas, por sua vez, fizeram tudo o que foi possível durante esta segunda para passar uma imagem de normalidade, apesar do duro golpe que a tentativa de rebelião representou para a imagem de Putin, em plena contraofensiva na Ucrânia.
A rebelião de Prigozhin, um bilionário que no passado foi aliado de Putin, durou 24 horas e terminou no sábado.
Em sua primeira mensagem de áudio publicada desde que seu motim terminou, Prigozhin não revelou seu paradeiro. Segundo um acordo alcançado no sábado com o Kremlin, com mediação do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, o líder do Grupo Wagner deveria se exilar em Belarus.
“O objetivo da marcha era não permitir a destruição do Grupo Wagner e responsabilizar aqueles que, com suas ações pouco profissionais, cometeram um número considerável de erros durante a operação militar especial” na Ucrânia, disse ele na mensagem de 11 minutos.
Segundo ele, a marcha de seus homens rumo a Moscou “evidenciou graves problemas de segurança no país” porque conseguiram tomar, sem qualquer resistência, o quartel-general do Exército na cidade de Rostov no Don, assim como várias instalações militares, percorrendo 780 km antes de parar “a pouco mais de 200 km de Moscou”.
Se as forças do Wagner não avançaram mais foi, segundo Prigozhin, para não “derramar sangue russo”. Ele também disse que não queria “derrubar o poder” e que recebeu o apoio dos civis com os quais cruzou durante a marcha.
Apesar da rebelião interrompida, o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, disse nesta segunda-feira que o Grupo Wagner continuará suas operações no Mali e na República Centro-Africana.
Por sua parte, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, visitou suas tropas perto de Bakhmut, cenário da batalha mais intensa da guerra e cidade capturada semanas atrás pela Rússia, uma conquista atribuída em grande parte ao Grupo Wagner.
“Hoje, nossos soldados fizeram progressos em todas as áreas. Hoje é um dia feliz”, afirmou Zelensky nesta segunda-feira em seu habitual pronunciamento noturno.
Os líderes militares do país garantiram que as tropas ucranianas estavam avançando tanto no sul como no leste.
“Estamos expulsando o inimigo de suas posições nos flancos de Bakhmut”, afirmou o comandante das forças na frente ocidental, Oleksander Sirskyi.
“A Ucrânia está recuperando território. Vamos em frente”, acrescentou.
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