Rebelde, visionária e inspiradora de várias gerações de mulheres, a cantora e compositora Rita Lee, que morreu na segunda-feira (8), aos 75 anos, era considerada por muitos a "rainha" do rock brasileiro. Mas preferia ser chamada de "padroeira da liberdade".
Nascida em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947, em uma família de classe média, Rita Lee Jones estreou como cantora na banda feminina Teenage Singers, cantando covers de The Beatles e outros grupos estrangeiros.
Em 1966, formou o trio de rock psicodélico Os Mutantes, com o qual alcançaria fama nacional no auge da Tropicália, um movimento libertário que revolucionou a música brasileira durante a Ditadura Militar (1964-1985).
Foi com Caetano Veloso e Gilberto Gil, líderes do movimento, que Rita Lee descobriu seu “lado brasileiro”.
“Eles me deram as dicas de como fazer música brasileira, porque até então era só coisa gringa”, disse Rita Lee no documentário biográfico “Ovelha Negra” (2007), dirigido pelo músico Roberto de Carvalho, seu marido e sócio musical durante quatro décadas.
Separada de Os Mutantes em 1972, seguiu com a banda Tutti Frutti e, depois, com carreira solo.
Rita Lee foi uma mulher pioneira no cenário musical. Suas roupas extravagantes e canções irreverentes, que falavam de sexo, amor e liberdade, tornaram-se símbolos feministas.
“Eu era a única garota roqueira no meio de um clube só de Bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Eu fui lá com meu útero e ovários e me senti uma igual, gostassem eles, ou não”, escreveu ela em sua autobiografia lançada em 2016.
A artista evitou, no entanto, o compromisso político defendido por muitos de seus colegas durante a ditadura.
Seus inúmeros sucessos incluem “Ovelha Negra” (1975), “Mania de você” (1979), “Lança Perfume” (1980) e “Amor e sexo” (2003).
Com sua baixa estatura, a franja ruiva e os óculos coloridos viraram sua marca registrada. Rita Lee conquistou artistas de todas as áreas, incluindo o pai da Bossa Nova, João Gilberto, com quem gravou um dueto.
“João Gilberto me ensinou que eu era roqueira com voz de bossanoveira”, disse Rita Lee após sua morte em 2019.
Em 50 anos de carreira, ela lançou mais de 30 álbuns, foi indicada sete vezes ao Grammy Latino e venceu uma vez em 2001, na categoria de Melhor Álbum de Rock Brasileiro, com “3001”.
A Academia Latina da Gravação concedeu-lhe o Prêmio de Excelência Musical em 2022 pelo conjunto de sua obra.
Ela abriu o primeiro show dos Rolling Stones no Brasil, em 1995, e em 2001 lançou um álbum com canções dos Beatles em versão bossa nova.
Em 2012, Rita Lee anunciou sua aposentadoria dos palcos aos 64 anos, alegando “fragilidade física”.
Nas imagens que compartilhou em suas redes sociais recentemente, apareceu com cabelos curtos, vestindo pulôveres coloridos.
Fiel ao seu estilo rebelde, em 2022 ela revelou à revista Rolling Stone Brasil que o papel de “rainha do rock” nacional atribuído a ela por brasileiros de todas as idades não lhe convencia totalmente.
“Gosto mais de ser chamada de ‘padroeira da liberdade’ do que ‘rainha do rock’, o que acho um tanto cafona…”.
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