Rússia anuncia o fim do acordo de exportação de grãos ucranianos

A Rússia afirmou, nesta segunda-feira (17), que não vai prolongar o acordo de exportação de grãos ucranianos, horas após um ataque de drones navais contra uma ponte estratégica que liga o território do país à península anexada da Crimeia.

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Agence France-Presse

“O acordo do Mar Negro terminou de fato hoje”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à imprensa.

“Assim que a parte relativa à Rússia (do acordo) for cumprida, a Rússia retornará imediatamente ao acordo de grãos”, acrescentou.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, declarou que seu país está disposto a manter as exportações de grãos.

“Mesmo sem a Rússia, todo o possível deve ser feito para que possamos usar esse corredor (para exportação) no Mar Negro. Não temos medo”, insistiu.

Moscou reclamava há vários meses do pacto, assinado em julho de 2022 com a mediação da Turquia e da ONU, e que permitiu aliviar os temores de uma crise alimentar mundial.

O acordo, que permitiu a exportação de mais de 32 milhões de toneladas de cereais ucranianos, também inclui a retirada de obstáculos para as exportações de produtos agrícolas e fertilizantes russos.

A decisão russa de não prolongá-lo ocorreu poucas horas depois que drones navais atacaram a ponte que liga a Rússia à península anexada da Crimeia, chave para o abastecimento de soldados russos na Ucrânia.

Moscou, no entanto, insistiu que sua decisão não tinha nada a ver com o ataque.

Explosão em ponte da Crimeia

“O ataque de hoje à ponte da Crimeia é uma operação especial da SBU [serviços especiais ucranianos] e da Marinha”, disse à AFP uma fonte dos serviços de segurança ucranianos.

As autoridades russas anunciaram que um casal morreu no ataque e sua filha ficou ferida.

A ponte de Kerch já havia sofrido danos em outubro de 2022, em um atentado que Moscou atribuiu à Ucrânia. Kiev negou estar por trás do ataque.

As autoridades locais informaram que o tráfego foi interrompido na ponte e recomendaram aos russos que viajam à península, anexada por Moscou em 2014, que transitem pelos territórios ucranianos ocupados.

Horas depois do ataque, agências de notícias russas informaram que o governo se recusou a estender o acordo de grãos, cujos principais beneficiários foram China, Espanha e Turquia.

“A Rússia notificou hoje oficialmente as partes turca e ucraniana, assim como o Secretariado da ONU, de sua objeção à extensão do acordo”, informou a agência TASS, citando a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.

“Humanidade como refém”

A decisão russa provocou uma onda de reações internacionais.

É um “ato de crueldade”, disse Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA na ONU, e acusou Moscou de manter “a humanidade como refém”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou, por sua vez, que milhões de pessoas vão “pagar o preço” por esta decisão, que segundo ele “afetará as pessoas mais pobres em todo o mundo”.

Alemanha e Reino Unido também criticaram Moscou. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, qualificou a decisão de “cínica”.

Desde 27 de junho, não está autorizada a participação de novas embarcações para a exportação de grãos, informou em nota o Centro de Coordenação Conjunta (CCC), que supervisiona o acordo.

Combates violentos

No campo de batalha, a contraofensiva ucraniana iniciada em junho prossegue.

A vice-ministra da Defesa, Ganna Maliar, anunciou que as tropas ucranianas recuperaram 18 quilômetros quadrados no leste, perto da cidade de Bakhmut, sob controle russo desde maio.

A localidade, que tinha 70.000 habitantes antes da guerra, foi completamente destruída durante a batalha mais longa e violenta desde o início da ofensiva, em fevereiro de 2022.

Nas proximidades de Kupiansk, na região de Kharkiv (nordeste), as forças russas avançam de maneira ativa desde o fim da semana passada”, disse Maliar.

Kiev admitiu que a contraofensiva avança de maneira lenta e insiste que os Estados Unidos e outros países aliados forneçam mais armas de longo alcance.

“As pessoas deveriam entender o preço que pagamos por avançar”, disse à AFP um comandante no front. “Há muitos inimigos. Precisamos de tempo para reduzi-los”, acrescentou.

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