A Rússia realizou, nesta sexta-feira (21), exercícios militares com disparos de mísseis no Mar Negro, e gerou preocupações na ONU pelo agravamento das tensões desde a saída de Moscou do acordo que permitia à Ucrânia exportar grãos por esta rota.
“Deve-se evitar, a todo custo, qualquer risco de escalada do conflito como resultado de um incidente no Mar Negro”, o que “pode ter consequências catastróficas para todos nós”, disse ao Conselho de Segurança a secretária-geral adjunta da ONU para Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo.
O Ministério da Defesa da Rússia informou que sua Frota do Mar Negro disparou mísseis de cruzeiro que destruíram “um navio usado como alvo na zona de treinamento de combate no noroeste do Mar Negro”.
Na quarta-feira, o Kremlin alertou que consideraria navios de carga com destino à Ucrânia como possíveis alvos militares.
Kiev, por sua vez, anunciou ontem que também consideraria as embarcações com destino a portos controlados pela Rússia como possíveis navios de transporte de equipamento militar, “com todos os riscos associados”.
As tensões aumentaram depois que Moscou encerrou, na segunda-feira, um acordo que facilitava a exportação de grãos dos portos ucranianos do Mar Negro.
Nesta sexta-feira, a Rússia bombardeou o oblast (província) de Odessa, no sul da Ucrânia, e seus silos de grãos pela quarta noite consecutiva, segundo as autoridades locais.
Kiev acusa Moscou de mirar especificamente nesse tipo de infraestrutura, com o objetivo de impedir qualquer retomada das exportações.
Após o fim do acordo, a Ucrânia garantiu que está disposta a continuar exportando grãos por via marítima e pediu à ONU e aos países vizinhos que estabeleçam um corredor seguro para a navegação.
As forças de Moscou “destruíram 100 toneladas de ervilhas e 20 toneladas de cevada”, além de terem ferido duas pessoas, denunciou o governador local, Oleh Kiper.
Os portos de Odessa e Mikolaiv já haviam sido alvo de bombardeios na madrugada de quinta-feira. Os ataques deixaram pelo menos três mortos e 20 feridos.
O Exército russo afirma que tem como alvos apenas locais militares.
A ONU, que mediou a negociação do acordo de grãos assinado em julho de 2022, emitiu um alerta sobre as consequências dessas tensões nos preços dos alimentos.
“Já vemos o efeito negativo nos preços mundiais do trigo e do milho, o que prejudica todos, mas especialmente as pessoas vulneráveis do sul do planeta”, disse Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Verchinin, por sua vez afirmou: “Entendemos os temores que nossos amigos africanos podem sentir, é compreensível e será levado em consideração.”
Moscou assinalou que está disposta a reativar o acordo, mas apenas se a “totalidade” de suas exigências, que incluem o levantamento de barreiras às exportações russas de fertilizantes, forem atendidas.
Na linha de frente, dois meninos de 10 e 16 anos morreram atingidos por projéteis russos na cidade de Druzhba, no leste da Ucrânia, anunciou o governador local Pavlo Kyrylenko.
Um casal também morreu por disparos de foguetes Grad em Kostiantynivka, informou a mesma fonte algumas horas antes.
No norte, o governador da província de Chernihiv, Vyacheslav Chaus, relatou a morte de um funcionário de um centro cultural atingido por um bombardeio russo. O corpo de uma mulher também foi encontrado sob os escombros, disse ele.
As forças ucranianas começaram a usar as bombas de fragmentação fornecidas pelos Estados Unidos na tentativa de acelerar sua lenta contraofensiva lançada há um mês, segundo a Casa Branca.
Essas armas controversas dispersam centenas de pequenos explosivos e são proibidas em vários países devido à ameaça que representam para os civis.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta sexta que a contraofensiva ucraniana “não deu nenhum resultado” até agora e que os “recursos colossais” de armas fornecidos à Ucrânia por seus aliados ocidentais não estão tendo efeito nas linhas de frente.
Putin alertou ainda que Moscou usará “todos os meios” à sua disposição para proteger Belarus, sua aliada, de possíveis ataques.
“Uma agressão contra Belarus será equivalente a uma agressão contra a Federação da Rússia”, disse ele durante uma reunião de seu Conselho de Segurança, transmitida pela televisão.
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