Pesquisadores do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) e o Hospital Israelita Albert Einstein chegaram à conclusão que apenas após a quarta dose de vacina contra o SARS-CoV-2 é possível notar a proteção contra a covid longa. As três primeiras doses do imunizante protegem contra o agravamento da doença e evitam a morte, mas não protegem contra a forma prolongada da doença.
A covid prolongada caracteriza-se pela persistência de um ou mais sintomas da doença quatro semanas após a infecção.
Há outros três fatores de risco para os sintomas persistentes:
“Os dados mostram a importância da quarta dose no esquema vacinal contra a covid-19. Quem está com a vacinação incompleta precisa completá-la o mais rápido possível”, diz Vanderson Sampaio, pesquisador responsável pela análise dos dados no ITpS.
“Outro resultado importante é que sucessivas infecções aumentam o risco de desenvolver a forma prolongada da doença. Isso reforça a necessidade de continuarmos com as medidas de prevenção, como máscara, higiene das mãos e preferência por locais ventilados.”
Pesquisadores do ITpS e do Einstein compararam os dados dos profissionais de saúde e outros funcionários do hospital infectados que tiveram covid longa antes de serem vacinados, com os dos que relataram os sintomas após a primeira, segunda, terceira e quarta doses da vacina.
A quarta dose reduziu em 95% as chances de covid longa em relação ao grupo não vacinado.
Já no grupo de vacinados com uma, duas ou três doses, não foi observada redução significativa de risco para a covid longa.
Foram coletados dados de 18.340 profissionais da saúde, de 1º de março de 2020 a 15 de julho de 2022. Desses, 7.051 tiveram covid-19 no período, sendo que 5.118 (72,6%) não relataram nenhum sintoma de covid longa.
Dos 1.933 indivíduos que relataram sintomas persistentes (27,4% do total), a maioria (51,8%) apresentou três ou mais.
Foram incluídas variáveis como sexo, idade, índice de massa corpórea, atividade física (mais ou menos de 30 minutos por dia), hipertensão reportada, diabete, artrite, doença renal crônica, AVC, câncer, tipo de trabalho, número de doses de vacina recebidas, esquema vacinal (homólogo ou heterólogo, uma dose de reforço diferente das doses anteriores), número de infecções e variante do SARS-CoV-2.
“Além de termos mostrado que grande parte dos profissionais de saúde foram expostos ao vírus e que muitos desenvolvem a chamada covid longa, o mais interessante é termos evidenciado o poder de proteção das duas doses de reforço. É importante que existam novos estudos e que o poder público embase suas estratégias de atuação nessas evidências científicas”, diz Alexandre Marra, pesquisador do Einstein e primeiro autor do trabalho.
Para Luiz Vicente Rizzo, autor sênior do novo estudo e diretor de pesquisa do Einstein, com a importância que a covid-19 tem para a saúde global, ainda serão necessários muitos estudos a fim de compreender a doença e debelá-la.
“Esse trabalho é mais uma peça no grande quebra-cabeça da covid-19. Com bilhões de pessoas afetadas, uma multitude de vacinas e adoção de medidas muito diferentes pelos diversos países, há variáveis que precisam ser entendidas. Só assim poderemos lidar com as novas ondas e variantes e com as sequelas deixadas pela infecção. Há de se esperar que, entre os pacientes, existam subgrupos mais ou menos afetados, e cujos marcadores comportamentais e biológicos precisam ser determinados. Apenas a pesquisa científica poderá trazer respostas confiáveis que servirão para melhorar o cuidado dessas pessoas e também para melhor uso dos insumos de que dispomos.”
Além de Vanderson Sampaio, participaram das análises pelo ITpS os pesquisadores científicos Mina Ozahata e Rafael Lopes Paixão.
Atrás de fatores protetivos ou de risco para o desenvolvimento da covid longa, o ITpS também trabalhou com pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, usando amostras de profissionais de saúde vacinados do Hospital das Clínicas da FMUSP, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Também foram encontradas associações, ainda mais robustas, entre maior risco de covid longa e o fato de o paciente ser mulher (duas vezes mais risco do que o homem), ter tido reinfecção (duas vezes mais risco a partir da segunda infecção) e gravidade da doença.
Dos infectados pelo SARS-CoV-2 que descreveram sintomas persistentes com duração superior a quatro semanas após a infecção, 79% relataram fadiga, 71%, tosse persistente, 67%, dificuldade de concentração, 65%, dor de cabeça, 63%, mialgia e artralgia, e 55%, perda de memória.
O grupo Coorte de Profissionais de Saúde Vacinados do Hospital das Clínicas da FMUSP, coordenado por Silvia Figueiredo Costa, professora associada do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da instituição, acompanhou 1.540 pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 em dois períodos, de setembro de 2020 a dezembro de 2021 e de janeiro de 2022 a outubro do mesmo ano.
“Por termos um estudo dinâmico, conseguimos, ao longo dos meses, incluir novos casos de covid longa e avaliar o impacto das doses de reforço, da circulação de novas variantes e de reinfecções”, afirma Silvia.
Rede de coortes de covid-19
No primeiro semestre de 2022, o ITpS e nove grupos de pesquisa começaram a estruturar uma rede de estudos populacionais sobre covid-19 no Brasil. O objetivo é trabalhar em rede, compartilhando dados e unindo esforços em um modelo de ciência colaborativa, de modo a obter informações sobre populações vacinadas contra o SARS-CoV-2 e também recuperadas da covid-19 que possam orientar a tomada de decisões estratégicas em saúde pública.
“O trabalho em rede com grupos que acompanham coortes de pacientes bem estudados permite o acesso a um grande número de dados de qualidade, possibilitando análises que respondam a perguntas importantes para as decisões públicas de saúde”, afirma o diretor-presidente do ITpS, Jorge Kalil.
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Este post foi modificado pela última vez em 6 de janeiro de 2023 19:20
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