Os quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas priorizaram os esforços no Sudeste para conquistar votos. A região com mais de 66,7 milhões de eleitores, ou 43% do total do País, concentrou as agendas dos postulantes ao Palácio do Planalto nesta campanha. A cada dez dias de setembro, seis foram dedicados principalmente aos Estados de São Paulo, Minas e Rio. Apenas no dia 16, uma sexta-feira, não houve uma aparição pública de candidatos na região.
O Sudeste impõe desafios para os líderes nas pesquisas. O petista Luiz Inácio Lula da Silva tentou ampliar a distância de Jair Bolsonaro (PL) para conquistar um eventual novo mandato já amanhã (2).
Candidato à reeleição e vitorioso na região em 2018, o atual presidente depende do Sudeste para chegar ao segundo turno, quando precisará de tração, sobretudo em São Paulo. Uma segunda etapa entre Fernando Haddad (PT) e Rodrigo Garcia (PSDB), por exemplo, na disputa pelo Bandeirantes, deixaria o presidente sem palanque.
Já em Minas, a tentativa de levar Alexandre Kalil (PSD) para o segundo turno contra Romeu Zema (Novo) busca manter palanque para Lula caso a eleição presidencial não acabe na primeira etapa. O governador mineiro chegou a arregimentar o antipetismo, mas se afastou e agora tenta manter distância segura de Bolsonaro.
Atos de Lula e Bolsonaro na véspera do pleito, tomados como cartada final das campanhas, serão realizados neste sábado, 1º, na capital paulista, ao lado de seus candidatos ao governo de São Paulo. Lula participará de uma caminhada com Haddad na Avenida Paulista, e Bolsonaro confirmou presença em uma motociata com Tarcísio de Freitas (Republicanos), com saída da Praça Campo de Bagatelle, na zona norte.
De acordo com a Média Estadão Dados, Lula tem 40% das intenções de voto do eleitorado do Sudeste, ante 36% de Bolsonaro – uma diferença menor do que o cenário nacional, no qual a liderança do petista é de 14 pontos porcentuais.
A ideia da campanha de Bolsonaro de focar os últimos dias no Sudeste, além de dobrar a aposta em Tarcísio, é tirar a diferença necessária e empurrar a disputa para o segundo turno. A avaliação é de que o candidato do PL no Rio, Cláudio Castro, está mais descolado de Bolsonaro, e o nome que disputa o governo de Minas, Carlos Viana (PL), não decolou.
A campanha petista também marcou presença na região na reta final. Segundo o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), Lula esteve nos maiores colégios eleitorais para consolidar os votos no Sudeste e “reforçar a possibilidade de ganhar as eleições no primeiro turno”. “A nossa grande campanha é para reduzir a abstenção, incentivar as pessoas a votar e despertar a vontade e disposição de votar”, disse Padilha.
Nesta sexta, 30, Bolsonaro foi a Poços de Caldas (MG), onde participou de uma motociata. Lula, por sua vez, passou por três Estados – Rio, Bahia e Ceará, ao lado de seus candidatos aos governos locais.
Considerada um termômetro da eleição nacional, a região concentra a maior parcela do eleitorado que elegeu Lula em 2002 e Bolsonaro no último pleito. Há 20 anos, dos mais de 39,5 milhões de votos que o petista recebeu no primeiro turno, 45,9% vieram dos quatro Estados. No caso de Bolsonaro, esse porcentual foi de 48,5% de um total de 49,3 milhões de votos. Apenas em 2006 foi diferente, quando Geraldo Alckmin (PSB) recebeu quase dez pontos porcentuais (39,3% ante 48%) a mais do que Lula no Sudeste mesmo perdendo o pleito nacionalmente.
“Tudo no Sudeste tem tamanho expressivo, os indecisos dessa região, por exemplo, representam mais de 2 milhões de eleitores. Se a maioria apoiar um ou outro candidato, não há como não fazer diferença no cômputo final”, afirmou o cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho do instituto Ipespe.
A relevância da região se dá pela importância econômica e contingente do eleitorado. “O presidente não precisa ter o apoio do PIB para governar, mas, se tiver, pode, ao menos, dialogar com pessoas do setor”, disse o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Eduardo Grin. Lula, que é de Pernambuco, radicou-se na região.
Essa força se traduz, sobretudo, na agenda dos quatro presidenciáveis que lideram as intenções de voto. O petista, que montou a própria base da campanha em São Paulo, fez aparições públicas ao menos 21 vezes ao longo de setembro na região, descontados os dias em que esteve na capital paulista para reuniões de alinhamento.
Já Bolsonaro viajou menos, passando 14 dias ao Sudeste. Ele correu para recuperar o tempo destinado a viagens internacionais no meio da campanha. Na quarta-feira, promoveu motociata em Santos (SP), onde disse que Lula quer “voltar à cena do crime” e o chamou de “maior ladrão da história do Brasil”. Como mostrou o Estadão, presidente e apoiadores preparam para hoje – véspera do primeiro turno – uma série de motociatas e carreatas
Ciro Gomes (PDT), candidato que mais esteve no Sudeste durante a campanha, visitou os Estados 22 vezes. Na segunda-feira, 26, por exemplo, ele escolheu a capital paulista para fazer a leitura do seu “Manifesto à Nação”, no comitê central da campanha. Nesse mesmo período, Simone Tebet (MDB) esteve 18 vezes em São Paulo, duas vezes no Rio e outra em Minas.
São Paulo, Minas e Rio costumam funcionar como fiéis da balança nas eleições presidenciais. Minas é visto como referência, já que espelha os resultados das eleições em nível nacional. Desde a República Velha, todos os candidatos que ganharam a disputa em Minas triunfaram no pleito nacional, com exceção de 1950. “Minas é uma espécie de ‘mini-Brasil’. Os que são eleitos lá conseguem dialogar com diferentes ‘Brasis'”, disse Grin.
Já desde a redemocratização, o Rio só não acertou o vencedor do primeiro turno em 1998, quando o PT venceu o PSDB por uma margem mínima de votos no Estado, e em 2002, quando Anthony Garotinho levou 42,18% do eleitorado, ante 40,16% do então candidato Lula. Os paulistas, por sua vez, apostaram nos candidatos do PSDB à Presidência em três eleições seguidas – 2006 (Geraldo Alckmin, atual vice de Lula), 2010 (José Serra) e 2014 (Aécio Neves).
Segundo o cientista político Marcus Ianoni, da Universidade Federal Fluminense (UFF), as candidaturas mais competitivas nos Estados sempre estão enraizadas nos palanques locais. “Nesse sentido, é racional que haja uma interseção entre as eleições presidenciais e estaduais”, afirmou.
(Estadão Conteúdo)
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