Tulipa Ruiz nos contou sobre novo álbum visual que recria “Efêmera”, seu primeiro disco

Nesta quinta-feira (20) a cantora e multiartista Tulipa Ruiz lançou o "Efêmera Remix", um projeto audiovisual de ressignificação das onze faixas do seu álbum de estreia. Tulipa contou ao Curto News como foi o processo criativo da nova versão de "Efêmera" (2010).

O Efêmera Remix

O ano é 2020. Seu disco de estreia, Efêmera, completava dez anos desde o lançamento. Para comemorar, Tulipa Ruiz decide “entregar esse disco para 11 produtoras e produtores” recriarem a obra, composto também por 11 músicas.

O resultado? Um conjunto de “upcyclings” musicais, que a artista recebeu como “presentes de cada convidado”. Dentre os que assinam os remixes, estão artistas como Thalma de Freitas, Tássia Reis, Marcio Arantes e Baiana System. Um filme também nasceu a partir das interpretações das novas faixas. Apesar de ter sido o primeiro dos 5 projetos da cantora ou “cantautora” nascida em São Paulo, Efêmera já se tornou repertório de muita gente e foi ovacionado pela crítica.

Tulipa Ruiz é cantora, compositora e ilustradora brasileira. Em 2010, ‘Efêmera’ foi avaliado como o melhor álbum do ano pela revista Rolling Stone e como um dos 10 melhores pelo jornal O Globo. A Folha de S. Paulo o classificou como um dos melhores da década. A faixa ‘Efêmera’ entrou para o Game Fifa 11, e em 2015, Tulipa levou o Grammy Latino por Melhor álbum Pop Contemporâneo por ‘Dancê’.

Primeiro álbum visual

Um plano-sequência das músicas cantadas foi gravado para compor o novo projeto. A Casa Modernista, em São Paulo, foi escolhida para abrigar o “delírio visual”. Tulipa conta que esta é a sua primeira experiência de “mergulho” neste formato. O figurino das gravações teve as mãos de Tulipa, com trabalhos de cianotipia, que também tem longa data em trabalhos gráficos. A artista “segurou muito” o lançamento do álbum comemorativo, que deveria ter ocorrido em 2020, ano em que eclodiu a pandemia. Em 2022, anos depois, conversamos com ela sobre a maturação do novo projeto, sustentabilidade, o consumo atual da música e outras coisas efêmeras.

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Como foi o processo de criação?

“Dei total liberdade para cada convidado trabalhar com a sua maneira. A gente entregou as sessões [das músicas] todas abertas, e aí cada convidado fez de uma maneira: adicionou instrumentos, tirou instrumentos, tirou minha voz, modificou minha voz. Acho que a coisa do remix é modificar ou melhorar algo. Eu poderia estar dentro, ajudando, mas a ideia foi entregar o arquivo aberto para que cada convidado se relacionasse com a musica do seu jeito.

Eu tenho uma produtora chamada Brocal, que é meu estúdio, minha marca. Nos unimos a uma produtora de cinema que se chama Umana, que filmou o projeto em novembro de 2020. O audiovisual aconteceu muito dentro de todos os protocolos, e a gente estava pisando em ovos. Então, essa gravação salvou, porque a gente não estava trabalhando e se reunir com esse tanto de gente para comemorar a longevidade de um projeto de arte foi muito especial assim.”

Reprodução/Instagram

Efêmero que não passa

“A minha ideia era comemorar o aniversário do disco, porque ele tem esse nome “efêmera” e eu achava que a indústria já estava mudando e se transformando, indo para o digital. E o efêmera me mostra, até hoje, como ele atravessou o tempo. O objetivo da investigação do meu disco era a durabilidade poética das coisas efêmeras, e esse disco tem uma durabilidade poética que me surpreende cada vez mais.”

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Ritmo, ritual e pandemia

  • Por que você prefere discos com 11 faixas?

“O efêmero ele tem 11 músicas, e aí eu parei nesse número por conta desse primeiro disco. Eu acho 11 um número bom. Fiquei reparando nos discos que eu gosto e eles não são discos longos. Acho que as 11 músicas entram nesse conceito, de você conseguir mergulhar no disco sem ele soar cansativo. E eu gosto muito desse formato, tanto como “cantautora”, quanto como artista gráfica, porque eu gosto de pensar em capa de disco o vinil. Se você passa de 40 minutos no vinil, ele começa a perder a qualidade do som. “

  • Qual a importância do ritual na sua rotina?

“Eu luto muito contra a dispersão. Eu sou uma pessoa dispersa e o contemporâneo me dispersa. Então, se eu não ritualizo as coisas, eu fico dispersa quando eu acordo, quando eu tomo café, quando eu estou vendo televisão, eu fico fazendo 40 mil coisas ao mesmo tempo. A sensação é que agora, com tanta informação, é um desafio estar presente nas coisas.”

  • O Efêmera Remix terá vinil?

“Hoje em dia fazer vinil no Brasil ficou uma coisa muito cara. Todos meus discos eu faço vinil. Inclusive em 2020, a gente fez uma mensagem de vinil do Efêmera. Eu fiquei muito na dúvida de fazer ou não porque a gente tava no meio da pandemia. Eu não sabia como ia ser isso, com esse mundo parado.

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Mas a prensagem do vinil de Efêmera surpreendeu a gente, porque ela acabou em menos de 24 horas. Justamente porque as pessoas estavam em casa, e escutar o vinil virou um ritual. A venda do vinil acabou aumentando na pandemia. Inclusive em 2020, a gente fez uma mensagem de vinil do Efêmera, então, se a galera pedir muito, eu vou desdobrar nesse formato.

Eu acho que, nesse momento inclusive que a gente escuta música no digital, às vezes ele dispersa e às vezes a gente fica muito consumindo o que o algoritmo determina. Isso é bom também, mas isso às vezes não. Costumo dizer que o vinil não é o algorítmico, ele é algo rítmico, porque quando você escolhe um vinil, quem escolhe é você. Então, cada vez mais eu tenho entendido ouvir música no vinil no lugar de ritual, sabe? De exercitar outras velocidades.

Para esse projeto eu ainda não sei. É um disco de remix, né? DJ’s gostam muito de vinil. Ainda não pensei na logística, mas se a galera pedir muito, eu vou desdobrar sim.”

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O público e a obra

É muito impressionante como eu recebo relatos desse disco, assim, porque 10 anos se passaram. Então, quem escutou quando era muito novo, já amadureceu, né? 10 anos é muita coisa. O que eu escuto, de como esse disco impactou, faz parte de uma história, como ele ainda gira na vitrola dessas pessoas… Eu tenho discos, né, que fazem parte da minha formação. Por exemplo os discos do Clube da Esquina, da Joyce, do João Donato, Caetano, Gal, Luiz Melodia, são discos que não expiram. Eu escutava quando era pequena e escuto até hoje na minha vitrola. E eu entendo que isso é ser atemporal.

E eu não tinha, até então, ouvido relatos tão fortes e potentes sobre essa trajetória do Efêmera. E eu entendi, só no aniversário do disco, que ele faz parte da formação do meu público. Assim: de parte grande do meu público, e eu fico muito honrada com esse retorno e com a trajetória desse trabalho.”

O que é sustentabilidade para você? O que há de mais insustentável hoje no Brasil?

“Para mim, na minha vida, é longevidade. É acreditar na durabilidade das coisas nesse contemporâneo tão disperso e tão descartável. No meio dessa pandemia, em que existe um vírus apontado diretamente para o humano, a gente tem que questionar a nossa relação com tudo: com o consumo, com as nossas relações. E eu acho que o que fica mesmo é a durabilidade, até onde a gente consegue ir. As coisas estão ficando cronicamente inviáveis desse jeito que estamos consumindo e produzindo.

O que não está sustentável e não tem um pensamento de sustentabilidade nenhum é o atual governo, que lida com tudo – com a arte, com a terra, a cultura, com a educação, a saúde – de uma maneira nada longeva, nada durável. “


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Curto Curadoria

Foto do topo: Reprodução/Instagram @tuliparuiz

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