Neste domingo (16) tem início o 20º Congresso do Partido Comunista. Se tudo ocorrer de acordo com o planejado pelas autoridades chinesas, ao final do encontro, que é realizado a cada cinco anos, o governante de 69 anos será novamente confirmado secretário-geral do partido, consolidando sua posição de líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-Tung.
A segurança foi reforçada ao redor da Praça Tiananmen (Paz Celestial) de Pequim, onde fica o imponente Grande Palácio do Povo, sede da reunião de quase 2.300 delegados do partido de todas as províncias da China. O local ganhou destaque em todo o mundo por acontecimento trágico, em 1989, quando o exército chinês investiu contra manifestantes deixando incontáveis mortos e feridos. Até hoje, o governo chinês proíbe qualquer menção ao assunto.
O congresso que será feito sob rígidos protocolos de saúde, como parte da insistência de Xi Jinping de prosseguir com a estratégia ‘covid zero’ para conter e eliminar o vírus dentro do país.
Durante o evento, que acontecerá em grande parte a portas fechadas, os participantes definirão os quase 200 membros do Comitê Central do partido. Estes, por sua vez, designarão os 25 integrantes do Escritório Político e os representantes do Comitê Permanente, o principal órgão de decisão da China.
“Porém, na realidade, tudo já aconteceu de maneira antecipada, porque o congresso não acontece até que as facções estejam de acordo”, afirmou à AFP o sinólogo Jean-Philippe Beja.
No primeiro dia, Xi Jinping pronunciará um discurso para avaliar seu mandato anterior e para esboçar o plano dos próximos cinco anos. No congresso de 2017, ele prometeu uma nova era para o socialismo com características chinesas e maior envolvimento de Pequim com o mundo. “A abertura traz progresso, enquanto a autorreclusão deixa você para trás”, disse. “A China não fechará suas portas ao mundo, ficará cada vez mais aberta”, acrescentou.
Mas o roteiro foi o inverso do que Xi Jinping preconizava. Enquanto o restante do mundo voltou gradualmente à situação anterior à pandemia, Pequim optou por seguir adiante com a estratégia ‘covid zero’, com restrições de viagens, quarentenas obrigatórias e confinamentos recorrentes.
Além dos inconvenientes para a população, a política de saúde também prejudicou os negócios. O crescimento econômico desacelerou e outros problemas surgiram, como o declínio da bolha imobiliária.
“A política de covid zero de Pequim desestimulou investimentos muito necessários e fracassou em conquistar os corações e mentes dos jovens chineses, os que mais sofreram econômica e socialmente”, disse Yu Jie, do programa Ásia-Pacífico do centro de estudos Chatham House.
“Muitos chineses estão preocupados com o retorno a um período de isolamento não visto no país desde sua abertura no final dos anos 1970”, disse Jean-Philippe Beja.
As relações com os Estados Unidos pioraram ainda mais nos últimos cinco anos e a política externa mais agressiva de Xi Jinping provocou disputas com vários países, como Índia, Austrália ou Canadá.
Os países ocidentais criticaram a retórica beligerante a respeito da ilha de Taiwan, que tem governo autônomo, e acusaram a China de abusos dos direitos humanos, em particular contra a minoria uigur na região de Xinjiang (oeste do país).
“O terceiro mandato do presidente Xi, que rompe com os precedentes, não é um bom presságio para os direitos humanos na China e em todo o mundo”, afirmou Xaqiu Wang, pesquisador sobre a China na Human Rights Watch.
Com 96,7 milhões de membros, o Partido Comunista da China é uma das maiores organizações políticas do mundo, mas seus mecanismos internos são opacos. Os observadores podem apenas tentar adivinhar a futura composição do Comitê Permanente, cujos membros estão no topo do poder do país.
Desde a década de 1990, os membros do Escritório Político geralmente se afastam após dois mandatos, mas a reeleição de Xi quebraria esta tradição. A eleição das pessoas que ficarão ao lado de Xi será crucial, disse Steve Tsang, diretor do SOAS China Institute.
“Acredito que Xi terá o cuidado de enviar uma mensagem clara de que ninguém promovido ao Comitê Permanente será um sucessor no 21º congresso”, acrescentou.
A configuração do comitê será revelada apenas um dia depois do fim do congresso. Se, como esperado, Xi permanecer como secretário-geral, ele será confirmado para outro mandato presidencial na reunião anual da Assembleia Popular Nacional da China em março.
Muitos analistas, entretanto, não acreditam que este será seu último mandato. “A incerteza é absoluta”, afirmou o cientista político Jean-Pierre Cabestan. “Mas a promoção do pensamento de Xi Jinping, a restauração do culto à personalidade, a importância de seu poder no coração da liderança do partido, tudo isto evoca alguém que permanecerá no poder por muito tempo, talvez pelo resto da vida”, acrescentou.
(Com AFP)
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