Desde o lançamento público em 2022 do ChatGPT, chatbot gerador de texto da OpenAI, as ferramentas de inteligência artificial (IA) tomaram completamente o mercado – instigando novos produtos e carreiras profissionais. Diante dessa revolução tech, como fica o ensino universitário?
Anteriormente restritas apenas às grandes empresas ou ao mercado B2B, as tecnologias de IA ultrapassaram a presença no setor de computação tradicional, sendo cada vez mais vistas como uma possível carreira para jovens profissionais ou para quem busca uma transição de cargo. Cursos livres, de graduação e pós-graduação crescem exponencialmente nas áreas da tecnologia, em uma onda de profissionais buscando aprimorar suas habilidades.
O MBA em Inteligência Artificial e Big Data na USP experimentou um aumento de 38% na demanda, com a terceira turma matriculada iniciando as aulas este mês. Enquanto isso, na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), o interesse crescente de profissionais da área jurídica levou à introdução de disciplinas voltadas para a IA.
Assim como essas tecnologias foram incorporadas à rotina de todos, dentro da sala de aula não é diferente, influenciando desde o aluno até o educador. Segundo Rafael Martins Ronqui, Diretor de MBA da FIAP, a IA é vista como um componente adicional em sala de aula, auxiliando na formulação inicial de ideias e atuando frequentemente como uma ferramenta de apoio para o aluno.
“No entanto, a academia ainda busca esclarecer até que ponto os alunos devem utilizar a IA para seu desenvolvimento e até que ponto os professores podem empregá-la como ferramenta de ensino. O que é esperado é que essas respostas sejam obtidas através da experiência cotidiana com essa poderosa aliada que é a IA”, completa o executivo.
Ainda de acordo com Ronqui, por conta da velocidade em que os produtos de IA estão avançando e pelo fato de diversas comunidades estarem envolvidas em seu desenvolvimento, o principal desafio para as instituições de ensino ao integrar a inteligência artificial em seus programas é manter-se atualizado com esse progresso e garantir que os professores possam transmitir esse conhecimento de uma maneira que tenha aplicação prática.
Gustavo Torrente, Head of Learning da FIAP, sustenta que – para manter os programas de graduação e pós-graduação atualizados – as instituições acadêmicas devem estabelecer parcerias com empresas que estão na vanguarda da tecnologia IA, participar de eventos, congressos e conferências internacionais, além de contar com um corpo docente formado por profissionais experientes e atuantes no mercado, trazendo conhecimento prático e atualizado para a sala de aula.
De acordo com o relatório Future of Work Report, divulgado pelo LinkedIn em novembro de 2023, globalmente, profissionais com diplomas de bacharelado e pós-graduação tendem a enfrentar um nível ligeiramente maior de disrupção (55% e 52%, respectivamente) do que aqueles com diplomas de ensino médio e cursos técnicos (50% e 47%, respectivamente), o que sugere que eles podem enfrentar uma urgência relativamente maior para adaptar suas habilidades adotando ferramentas de IA.
No entanto, não necessariamente apenas habilidades técnicas são necessárias para destacar um profissional em 2024. Apesar do trabalho com IA geralmente incluir habilidades como Machine Learning, Deep Learning, Estruturas de Dados e outras competências técnicas, é importante balancear com soft skills em busca de um perfil mais completo.
O relatório Future of Work do LinkedIn ainda destaca que profissionais de tecnologia que desenvolveram uma ou mais dessas habilidades interpessoais – comunicação, trabalho em equipe, resolução de problemas ou liderança – além de habilidades técnicas, são promovidos mais de 13% mais rapidamente do que os funcionários que possuem apenas habilidades técnicas.
Torrente sustenta que um programa robusto de pós-graduação em IA deve cobrir uma base sólida de teoria de aprendizado de máquina, estatística e algoritmos, além de ter um foco cada vez maior na interdisciplinaridade, integrando conhecimentos de ética, ciências sociais e domínios específicos do setor, como saúde ou finanças, para preparar melhor os alunos para os desafios do futuro.
“Deve também incluir módulos práticos que ofereçam experiência com ferramentas e tecnologias atuais, como LLMs e IA Generativa. A ética em IA é outro componente crucial, preparando os alunos para enfrentar questões de viés e privacidade. Além disso, a exposição a estudos de caso reais e a oportunidade de trabalhar em projetos práticos são essenciais para entender as aplicações do mundo real”, finaliza o Head of Learning da FIAP.
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