Visualizemos, então, o cenário dessa festa (Threads): organizada pelos anfitriões, já conhecidos, prometem uma experiência inédita. A melodia que ecoa é a mesma, as caras são familiares e as regras do jogo permanecem inalteradas.
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Threads, o novo aplicativo da Meta, foi recebido por 100 milhões de pessoas em cinco dias, muito por conta de sua associação ao Instagram. O novo espaço é limitado a postagens de 500 caracteres – uma imitação do Twitter.
Como na festa já conhecida, você pode responder, encaminhar e citar postagens, mantendo-se a interação padrão de sempre. No entanto, ainda permanece uma estética familiar, herdada do Instagram, com a habilidade adicional de compartilhar publicações do Threads diretamente nos Stories do Instagram.
A festa até parece bem acolhedora, mas sair dela sem ser percebido pelos anfitriões se torna uma tarefa árdua. Pode-se desativar temporariamente os perfis, mas, de acordo com a política de privacidade da empresa, para realmente deixar o Threads, é preciso excluir a conta do Instagram. Quão profunda é essa interligação, que para deixar uma festa, precisamos sair do bairro todo? Estranho.
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Mas o que mais suscita preocupações são as informações recolhidas no evento, digo, pelo aplicativo. Assim como na festa anterior, o Instagram, o Threads pode coletar dados variados sobre os usuários – localização, contatos, histórico de pesquisa, informações de contato e outros – uma verdadeira farra na invasão de privacidade disfarçada de open bar.
Portanto, antes de adentrar nessa festa open bar, é preciso ponderar: queremos mesmo dançar ao som dessa mesma melodia, cercados pelos mesmos anfitriões, sob as mesmas regras de vigilância, apenas em um novo salão (e cuja decoração já é bem manjada)?
Bom, a festa até pode ser nova, mas a experiência é tão velha quanto a experiência viciante de rodar o feed. Como disse meu amigo Ricardo Costa: “Threads é uma disrupção tão relevante quanto a função do zoom 400% do Microsoft Word.”
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Sílvia Piva é advogada, mestra e doutora em Direito pela PUC-SP. Entusiasta das tecnologias, ela é pesquisadora da FGV e PUC-SP sobre Tecnologias Emergentes, Tecnofilosofia, Ética e Regulação. Além disso, a advogada é uma das fundadoras do Ex nunc metaverse, o primeiro metaverso jurídico do Brasil. Piva ainda integra um escritório de advocacia e é líder do hub Nau d’Dês.