Créditos da imagem: AFP

Crise no Peru: Confrontos se aproximam do Congresso

Com chutes e empurrões no gradil que protege o Congresso, em Lima, centenas de manifestantes encapuzados e com escudos improvisados enfrentaram a polícia, neste sábado (28), em um novo episódio de violência paralelo às marchas pacíficas que pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte e a antecipação das eleições.

O centro da capital peruana voltou a ser palco de uma batalha campal com o ruído incessante de bombas de gás lacrimogêneo ao fundo. Os manifestantes, mais violentos, enfrentam a polícia em meio a uma convulsão social que após 52 dias de governo de Boluarte não dá sinais de apaziguamento.

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“Nem um morto mais, Dina assassina”, “Queremos dignidade, Dina renuncia já” foram algumas das palavras de ordem da passeata deste sábado, que começou como uma festa popular com bandas de música dos Andes e artistas até que um grupo de encapuzados avançou aos arredores do Congresso, fortemente resguardados por policiais da tropa de choque, resultando em intensos confrontos nos quais foram registrados ao menos dois feridos, um deles policial.

Os novos episódios de violência coincidiram com a recusa pelo Congresso de antecipar as eleições para este ano, como Boluarte havia pedido.

47 mortos

Mais cedo, a presidente lamentou a votação contrária do Legislativo em antecipar as eleições gerais e pediu que os interesses pessoais e partidários sejam postos de lado para “encontrar uma saída para a crise política” no país, marcada por protestos e bloqueios que já deixaram 47 mortos.

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“Exortamos as bancadas a deixarem de lado os seus interesses partidários e a priorizarem os interesses do Peru”, escreveu Dina Boluarte no Twitter.

Antes da explosão de violência, centenas de pessoas de Lima e das províncias, a maioria indígena, se concentraram na Praça San Martin, atendendo à convocação da ‘Marcha pela renúncia de Dina Boluarte e eleições antecipadas’.

“Sem justiça a paz é uma hipocrisia”, dizia um cartaz levado por um grupo de ‘palhaços de luto’, que desfilaram com música andina ao fundo, e a poucos quarteirões do Concerto pela Paz, outra manifestação contra a violência organizada por grupos civis que apoiam o trabalho das forças de ordem. Em sua maioria, estes manifestantes usavam alguma peça de roupa branca e estenderam uma longa bandeira vermelha e branca, as cores do Peru.

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Sete semanas de violência

Há sete semanas, o Peru tem sido palco de manifestações pedindo a renúncia de Boluarte, que assumiu a Presidência enquanto vice após a destituição do então chefe de Estado, Pedro Castillo (esquerda), em 7 de dezembro, por ter tentado dissolver o Parlamento.

Os confrontos entre manifestantes e forças de ordem deixaram desde então 47 mortos, entre eles um policial que foi queimado vivo, além de dez civis – entre eles um bebê -, mortos em eventos relacionados com os bloqueios, segundo a Defensoria do Povo.

O sul andino do Peru, onde vivem comunidades quéchuas e aimaras historicamente relegadas, se mantém em pé de guerra exigindo a renúncia de Boluarte e a realização de eleições.

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Após uma sessão de mais de sete horas, o Congresso rejeitou, na madrugada deste sábado, a antecipação das eleições gerais para 2023, como havia pedido a presidente Boluarte, diante da piora da situação e em uma tentativa de buscar uma saída para a grave crise que o país atravessa.

A proposta apresentada pelo congressista fujimorista Hernando Guerra García, do partido de direita Força Popular (FP), foi derrotada por 65 votos a 45 e, por isso, está mantido o projeto de celebrar as eleições gerais em abril de 2024.

Antecipar as eleições

Boluarte, que desde que assumiu a Presidência tem enfrentado pedidos frequentes de renúncia, pediu na sexta-feira que as eleições fossem programadas para dezembro deste ano para o país sair mais rápido do “atoleiro” provocado por bloqueios rodoviários, escassez e violência em diferentes regiões do Peru.

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A proposta, inclusive, antecipava as eleições para outubro de forma que a presidente, os congressistas e as autoridades eletivas entregassem o poder em dezembro de 2023.

A esquerda, no entanto, insistiu em que a proposta também deveria incluir um referendo sobre a Assembleia Constituinte, que é rechaçada por um amplo espectro da política peruana. Outros partidos denunciaram uma suposta manobra para tirar proveito eleitoral por parte do Força Popular, legenda da ex-candidata presidencial Keiko Fujimori.

O projeto votado na madrugada deste sábado será submetido à reconsideração do Congresso na segunda-feira, a pedido do fujimorismo, mas analistas consideram improvável uma reversão do resultado.

(com AFP)

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