O mundo está queimando etapas em direção a um futuro sombrio, no qual o impacto da mudança climática será mais grave do que se temia até agora. Por essa razão, a humanidade terá que acelerar a transformação energética, alertam especialistas em mudanças climáticas nesta segunda-feira (20), em um relatório muito aguardado. Após 9 anos de estudos, que ocupam 10 mil páginas, os membros do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgaram um resumo das pesquisas e uma breve pauta de recomendações, que representa um "guia de sobrevivência", nas palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Este relatório é uma mensagem de esperança”, declarou à AFP o presidente do comitê de especialistas da ONU, Hoesung Lee. “Temos o conhecimento, a tecnologia, as ferramentas, os recursos financeiros (…) para superar os problemas climáticos que identificamos, mas no momento o que falta é a vontade política”, reconheceu o economista coreano.
O sexto relatório de síntese desde a criação do IPCC é um resumo exaustivo de todo o conhecimento sobre o aquecimento do planeta.
O informe é o primeiro publicado desde a assinatura do histórico Acordo de Paris em 2015, que estabeleceu como principal meta, para quase 200 países do planeta, limitar o aumento da temperatura média do planeta a +2ºC, e de modo ideal a +1,5ºC.
Após uma semana de debates em Interlaken (Suíça), estas são as principais conclusões:
A temperatura média do planeta alcançará +1,5ºC na comparação com a era pré-industrial em algum momento entre os anos 2030 e 2035, devido à atividade humana.
A projeção é válida em quase todos os cenários de emissões de gases do efeito estufa da humanidade a curto prazo, levando em consideração o acúmulo por um século e meio, de acordo com as conclusões do informe.
Porém, “reduções profundas, rápidas e prolongadas das emissões (…) levariam a uma desaceleração visível do aquecimento do planeta em aproximadamente duas décadas”, acrescenta o texto.
“Vários riscos associados ao clima são mais elevados do que estava previsto, dado o nível futuro de aquecimento”, explicam os membros do IPCC. “Com o aumento inevitável do nível dos oceanos, os riscos para os ecossistemas costeiros, as pessoas e as infraestruturas continuarão aumentando após 2100”, explicam.
A questão das “perdas e danos” provocados por episódios meteorológicos extremos é um dos temas mais delicados das negociações do clima. A próxima reunião de cúpula, a COP28, acontecerá em dezembro em Dubai.
Os anos mais quentes de hoje serão alguns dos mais amenos dentro de uma geração.
“O mundo atual é mais frio que o de amanhã, pelo menos por várias décadas”, afirmou Chris Jones, cientista do serviço de meteorologia britânico e um dos principais autores do relatório.
Os últimos oito anos foram os mais quentes registrados até hoje.
Os benefícios de limitar o aquecimento global a +2ºC superam os custos, afirmam os climatologistas.
“Adiar as medidas de limitação e adaptação (…) reduziria sua viabilidade, e as perdas e danos aumentariam”, explica o IPCC.
“Entre 2010 e 2019 os custos diminuíram consideravelmente para a energia solar (85%), energia eólica (55%) e baterias de lítio (85%)”, explica a síntese.
“A curto prazo, as ações implicam investimentos iniciais e mudanças potencialmente radicais”, admitem os especialistas.
Os países ricos devem antecipar suas metas de neutralidade do carbono “o mais próximo possível de 2040”, em vez de 2050, pediu Guterres em uma reação rápida.
Acelerar o objetivo é imprescindível para “desativar a bomba climática”, explicou em uma mensagem de vídeo.
A humanidade, que “caminha sobre uma fina camada de gelo”, ainda pode limitar o aquecimento do planeta, mas para isto é necessário “um avanço decisivo da ação climática”.
A neutralidade de carbono consiste em emitir a mesma quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera do que aquela que é removida, por meio de diferentes técnicas.
Os países desenvolvidos, beneficiados por décadas de progresso graças ao consumo de energias fósseis, devem ser os primeiros a dar o exemplo.
Os países em desenvolvimento, por sua vez, devem ajustar-se à data de 2050 para alcançar a neutralidade de carbono, afirma Guterres.
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