O taxista Márcio Antônio do Nascimento Silva tinha 58 anos e estava internado com problemas no coração. Em junho de 2020, um dos primeiros meses da pandemia, ele ficou nacionalmente conhecido por recolocar as cruzes em um protesto na praia de Copacabana em memória às vítimas da covid-19 - entre elas, o filho dele, que faleceu aos 25. A homenagem feita pela Rio de Paz tinha sido destruída por um bolsonarista. As imagens de um pai recolocando as cruzes na areia viralizaram. Márcio foi convidado a testemunhar na CPI da Covid, do Senado Federal.
Márcio era coordenador censitário do IBGE da subárea de Inhaúma. O enterro estava previsto para a tarde desta terça-feira (4), no Cemitério São João Batista.
O filho dele, Hugo Dutra do Nascimento, faleceu por complicações do coronavírus em abril de 2020 após ter ficado 16 dias internado. O jovem era saudável e não possuía comorbidades.
Em nota, a Rio de Paz lamentou a morte do taxista e informou que fará homenagem reproduzindo a cena de recolocação das cruzes na areia.
Dois meses depois, quando 40 mil óbitos pela doença haviam sido registrados no país, Márcio se indignou com a atitude de um morador do Rio de Janeiro que decidiu derrubar as cruzes colocadas em homenagem aos mortos pela covid-19. O ato pacífico realizado pela Rio de Paz tinha 100 cruzes fincadas em covas simbólicas feitas com a areia da praia, com objetivo de cobrar ações do governo federal contra a pandemia. (O Globo)
“Gostaria, por favor, que as pessoas tivessem mais empatia e compaixão pelas pessoas, pelas vítimas, por todos nós”, disse o pai de Hugo, na época sobre o ocorrido. Relembre a cena:
“Ele era um defensor da vida. Vamos instalar uma réplica da cruz que ele usou em Copacabana, a bandeira do Brasil e uma faixa com a frase ‘Em memória de Márcio Antônio do Nascimento Silva, que defendeu bravamente a vida e a liberdade de expressão no país'”, afirmou o responsável pela ONG, Antonio Carlos Costa, ao O Globo. A Rio de Paz atua com foco na redução da pobreza e mortes violentas.
Depois de viralizar com o ato simbólico de defesa das medidas de proteção e prevenção contra a pandemia, Márcio foi à da CPI da Covid, onde criticou o presidente Jair Bolsonaro que negava a gravidade da crise sanitária e a necessidade do isolamento social.
“Minha dor não é ‘mimimi’. Dói para caramba”, disse o taxista durante a CPI. Na sessão, Márcio chamou de “deboche” uma fala do presidente Bolsonaro sobre os óbitos pela covid, afirmando ser incompreensível a “ironia” do chefe do Executivo diante do problema:
“Três dias depois de enterrar meu filho, eu ouvi aquela fatídica frase: ‘E daí?’ Isso me fez muito mal. Cada deboche, cada sorriso, cada ironia. Eu não conseguia entender isso.
“Eu acho que nós merecíamos um pedido de desculpa da maior autoridade do país. Porque não é questão política – se é de um partido, se é de outro. Nós estamos falando de vidas de pessoas”, colocou Márcio.
Diferentes membros da imprensa e internautas relembraram atos de Márcio após a confirmação de seu falecimento.
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