Não é segredo que a Indústria da Moda figura entre as principais poluidoras, contribuindo, segundo pesquisas, para 4% das emissões totais de gases de efeito estufa.
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Por isso, em um contexto de emergência climática, no qual estamos sendo alertados cada vez mais para as catástrofes socioambientais – muitas inclusive já em curso, como a seca e a fumaça na Amazônia -, torna-se imperativo que as marcas adotem uma postura mais transparente em relação à sua cadeia de produção.
A transparência é uma maneira de compreender como a indústria lida com temáticas importantes para combater essa crise, de modo a relatar, publicamente, o que tem feito sobre questões relacionadas aos direitos humanos e da natureza, redução da pegada de carbono e se assumem um comprometimento efetivo com a preservação e regeneração dos biomas brasileiros.
Nesse contexto, o Índice de Transparência da Moda Brasil emerge como uma ferramenta essencial para avaliarmos como as marcas estão lidando com esses desafios. Isabella Luglio, Coordenadora Educacional do Instituto e do Índice no Brasil, explica que esse projeto é uma maneira de responsabilizar e também de inspirar ações concretas em direção a uma moda social e ecologicamente responsável por parte da indústria.
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Em sua 6ª edição, embora o ITMB tenha alcançado a maior média entre as 60 marcas analisadas, atingindo 22% dos pontos totais, os dados revelam que a moda brasileira ainda tem um longo caminho a percorrer em termos de compromisso com práticas mais sustentáveis e éticas.
Positivamente, pela primeira vez desde a primeira edição da pesquisa em 2018, seis marcas pontuaram acima de 60%, com C&A com 70%, seguida por Malwee com 68%, Dafiti com 67%, Renner e Youcom, ambas com 65%, e Havaianas com 62%. No entanto, apesar desse avanço, quase metade das marcas avaliadas (48%) ainda carece de transparência, obtendo menos de 10% do total de pontos. Dessas marcas, 16 zeraram a pontuação, como a Brooksfield, Havan e TNG.
Em um ano que eventos climáticos extremos no Brasil alcançaram números históricos, comunicar sobre os reais impactos socioambientais da produção das nossas roupas é essencial. Embora haja um aumento na quantidade de marcas que divulgam sua pegada de carbono (45% das empresas divulgam as emissões de suas próprias instalações e 40% as emissões referentes a sua cadeia produtiva), os demais indicadores relacionados com a crise climática apresentaram pouco crescimento e se mantêm baixos: 98% das marcas não publicam metas científicas de descarbonização tanto de curto prazo quanto de longo prazo.
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Além disso, é importante lembrar que nossas roupas, originadas de recursos naturais, podem ter impactos negativos na biodiversidade brasileira, especialmente em biomas como a Amazônia e o Cerrado, que sofrem com o desmatamento para a produção de couro e algodão. Porém, os números apontam que ainda há pouca transparência quando buscamos divulgações sobre a implementação de práticas de agricultura regenerativa (8%) e compromissos mensuráveis e com prazo determinado para o desmatamento zero (10%).
Essa falta de transparência levanta questionamentos sobre o verdadeiro nível de comprometimento da indústria em relação à crise climática, deixando-nos sem informações concretas quanto aos reais impactos ambientais gerados por nossas roupas.
Por isso, não há outra saída: se quisermos alcançar justiça social e climática, as marcas de moda que se dizem preocupadas com essa questão precisam se responsabilizar por seus atos e serem mais transparentes.
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O novo relatório pode ser acessado aqui, e está disponível também em inglês.
Claudia Castanheira é comunicadora socioambiental, professora e pesquisadora com foco em sustentabilidade e justiça socioambiental. É mestra em Discurso e Sustentabilidade (USP), fundadora do Brechós pelo Mundo e colaboradora do Fashion Revolution da Bélgica. @euclaudiacastanheira
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