São os destaques do Curto Verde desta quinta-feira (11): o aquecimento global transforma o Mar Mediterrâneo em um "cemitério da biodiversidade"; jovens portugueses serão ouvidos perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos sobre os efeitos da crise climática; as mudanças nas florestas das Américas e o desmatamento das terras indígenas.
As intensas ondas de calor que atingiram a Europa nas últimas semanas, fizeram com que a temperatura do Mar Mediterrâneo aumentasse em até 5°C acima da média do verão.
O que pode ser um atrativo para os turistas – que se deliciam em nadar nas águas de cerca de 30°C – é um pesadelo para as espécies marinhas que não podem migrar para temperaturas mais frias.
O Mediterrâneo é um mar fechado – que corresponde a menos de 1% dos oceanos do planeta – mas abriga cerca de 7,5% da fauna marinha mundial e só tem contato com o Atlântico através do Estreito de Gibraltar, o que facilita o seu processo de aquecimento.
Em entrevista à RFI, Joaquim Garrabou – pesquisador do Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona – declarou que “o que vem acontecendo sob as ondas do Mediterrâneo ainda não é conhecido, ou é pouco conhecido, mas fenômenos muito sérios estão ocorrendo. Estamos testemunhando processos que eu pensava que não veríamos, processos de extinções locais de espécies”. (RFI)
Garrabou é um dos autores do estudo, publicado em julho na revista Global Change Biology (🇬🇧), onde afirma que – devido às suas características físicas – o Mar Mediterrâneo é um dos pontos mais vulneráveis diante dos efeitos da mudança climática, e cujas condições climáticas ultrapassaram os limites estipulados no Acordo de Paris de 2015.
Um grupo de jovens portugueses terá o seu caso – promovido contra 32 países europeus, em que se discute a ineficácia das suas políticas climáticas – ouvido perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH). (The Guardian*)
Depois de uma espera de 5 anos, os jovens irão sustentar que os incêndios florestais que ocorrem em Portugal todos os anos, desde 2017, são um resultado direto do aquecimento global.
Os requerentes alegam um risco para a saúde por causa desses incêndios e afirmam que já sofreram distúrbios no sono, alergias e problemas respiratórios, que são agravados pelo clima quente.
Ainda, argumentam que a mudança climática vem causando tempestades muito fortes no inverno, o que está colocando sua casa – situada perto do mar em Lisboa – em risco.
O caso deles se junta a outros litígios climáticos que devem serem ouvidos perante o TEDH nos próximos meses e, se forem bem-sucedidos, os governos estariam legalmente obrigados, entre outras medidas, a aumentar seus cortes de emissões.
Uma série de estudos – que analisaram a saúde das árvores na América do Norte e do Sul – demonstraram que o aquecimento global, combinado com as mudanças nos solos, ventos e nutrientes disponíveis, está mudando rapidamente a composição das florestas, tornando-as muito menos resistentes e propensas a doenças.
Roman Dial, biólogo da Alaska Pacific University, explicou que muitas áreas de floresta estão agora se tornando mais suscetíveis a incêndios florestais, causando a liberação de mais gases de efeito estufa. (The Guardian*)
“É como se os humanos tivessem acendido um fósforo e agora estamos vendo o resultado disso”, disse Dial.
Entre as mudanças percebidas por Roman Dial e outros pesquisadores, está um trecho de abetos brancos no norte do Alasca – uma área que não possui tais árvores há milênios.
Em artigo publicado na revista Nature, os cientistas estimam que os abetos estão avançando do noroeste para o norte do Alasca a uma taxa de cerca de 4km por década, auxiliados pelo aquecimento das temperaturas e influenciados pela redução do gelo marinho na região.
O impacto da crise climática também é percebido na Amazônia. Outra pesquisa descobriu que a falta de fósforo nos solos da floresta pode ter “implicações importantes” em relação a sua adaptabilidade ao aquecimento global. (Nature*)
O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou um estudo que mapeou o desmatamento dentro das terras indígenas.
Das 10 terras indígenas elencadas como as mais pressionadas pelo desmatamento, 5 estão localizadas no estado do Pará.
O levantamento mostra que a terra indígena Apyterewa, no Pará, foi a mais pressionada pelo desmatamento no segundo trimestre deste ano, entre abril e junho.
Localizada no município de São Félix do Xingu e local de residência do povo Parakanã, a Apyterewa já havia sido a terra indígena mais desmatada na Amazônia em 2021. Neste ano, novas invasões de grileiros foram registradas no local. Conforme a Polícia Federal, os invasores inclusive haviam deixado rebanhos bovinos sobre a terra indígena. (Imazon)
“Somente no mês de junho, a TI Apyterewa concentrou 52% de todo o desmatamento ocorrido nas terras indígenas da Amazônia. Foram 14 km², o que corresponde a 1.400 campos de futebol”, explicou Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
Chamada de “Ameaça e Pressão de Desmatamento em Áreas Protegidas”, a pesquisa é publicada trimestralmente pelo instituto.
A respeito do tema, o governo do Pará declarou que a fiscalização das terras indígenas é responsabilidade do governo federal. O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, afirmou que o desmatamento em terras indígenas caiu 26,8% entre 2019 e o 2021 e que a verba para fiscalização nestes territórios aumentou em mais 150% nos últimos três anos. (G1)
Curto Verde é um apanhado diário do que você precisa saber sobre meio ambiente, sustentabilidade e demais temas ligados à nossa sobrevivência e do planeta.
Foto de destaque: Reprodução/Pixabay
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