O estudo “Racismo ambiental e justiça socioambiental nas cidades” – publicado em julho deste ano pelo Instituto Pólis – trouxe um retrato de quem são as pessoas mais expostas aos eventos, muitas vezes catastróficos, causados pelas mudanças climáticas em 3 cidades brasileiras: São Paulo (SP), Belém (PA) e Recife (PE).
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Segundo a publicação, nos ambientes urbanos, os efeitos da crise ambiental se manifestam de forma territorialmente desigual, impactando desproporcionalmente as populações a depender do seu grau de vulnerabilidade.
Ações voltadas aos vulneráveis
Seria necessário direcionar ações para auxiliar esses grupos expostos – que são os mais afetados pelos desastres ambientais, agravados pelas mudanças climáticas – e que também sofrem com a escassez de serviços básicos (como abastecimento de água ou esgotamento sanitário).
De acordo com o estudo, os padrões de renda, nível de escolaridade, raça/cor da pele, gênero e local em que se vive definem quem são os mais impactados. As populações mais ameaçadas e que mais sofrem com as consequências do aumento de eventos extremos, como as chuvas fortes, são pessoas negras, de baixa renda e que habitam regiões periféricas, em especial as mães ‘chefes de família’.
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“A injustiça socioambiental, de acordo com Robert Bullard (2004) e a Rede Brasileira de Justiça Ambiental (2001) fica caracterizada quando os danos ao meio ambiente produzem impactos desiguais que sobrecarregam desproporcionalmente pessoas de baixa renda, populações marginalizadas, grupos minoritários e vulnerabilizados“, conceitua.
“Já o racismo ambiental, de acordo com Benjamin Chavis, fica evidente quando as consequências das degradações ambientais se concentram em bairros e territórios periféricos, onde vivem famílias mais pobres e onde há maior concentração de pessoas negras, indígenas e quilombolas. São também nessas áreas que se concentram os piores índices de poluição do ar e das águas, assim como maior incidência de riscos de inundações e deslizamentos (para citar alguns exemplos), expondo essa população vulnerabilizada aos perigos de desastres naturais e a piores condições de saúde. Complementa-se ao conceito de racismo ambiental a não presença da população negra na elaboração das políticas e na lideranças de movimentos ecológicos, bem como a discriminação da aplicação das leis em territórios racializados”, explica o estudo.
Dados expostos na publicação apontam que 37% da população da cidade de São Paulo é negra, já nas áreas com risco de deslizamento esse número sobe para 55%. Em Belém, onde, de acordo com os dados do Censo Demográfico (IBGE, 2010), 64% da população é negra, nas áreas de risco este índice sobe para 75%. E em Recife, onde 55% da população é negra, nas áreas com risco de deslizamento essa quantidade aumenta para 68%, e em áreas com risco de inundação, 59%.
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As populações mais vulneráveis e impactadas pelas degradações ambientais também são aquelas historicamente excluídas dos processos políticos e decisórios. Algo a ser pensado neste período eleitoral, não é? 🤔
Curto curadoria:
- Injustiça climática: aquecimento global afeta pessoas e regiões de forma desigual (Valor Econômico)🚥
- Quem mais sofre os impactos da crise do clima nas cidades? (Greenpeace Brasil)
- Quem precisa de justiça climática? (Gênero e Clima)
(🚥): pode exigir registro e/ou assinatura
(🇬🇧): conteúdo em inglês
(*): conteúdos em outros idiomas são traduzidos pelo Google Tradutor