Essa intenção de criar barreiras para a importação de carros elétricos, se levada adiante, tem tudo para dar errado e prejudicar o país.
Aloísio Mercadante, presidente do BNDES, defende que o Brasil adote cotas para limitar a importação desses veículos com o objetivo de estimular que as montadoras os produzam localmente. Para reforçar seu argumento, diz que vários países desenvolvidos já fazem isso, reduzindo os impostos para a produção e venda desses carros, estimulando assim consumo de energia mais limpo e sustentável.
Não é bem assim. Realmente vários países, como aqui na França, oferecem vantagens para a produção e venda de carros elétricos. Mas não existe essa história de cotas.
O Brasil tem em sua história econômica um exemplo clássico de fracasso na tentativa de se estimular a produção local através da proibição de importações.
No início dos anos 70, a ditadura militar veio com a Lei de Informática, que impossibilitava a comercialização de computadores fabricados no exterior em território nacional. O objetivo era que o de fazer o país alcançar a sua independência tecnológica.
O resultado foi um desastre. Os brasileiros eram obrigados a usar computadores copiados de produtos fabricados no exterior, mas com pior qualidade, obsoletos e até 10 vezes mais caros.
Essa reserva de mercado draconiana caiu nos anos 90 (a Lei de Informática sofreu alterações mas continua em vigor) e a consequência foi que a maioria dos brasileiros demorou muito mais tempo para ter acesso a computadores. Essa ausência da livre concorrência teve impacto de longo prazo na produtividade e competitividade da economia brasileira.
Uma situação parecida ocorreu com os carros. Sem a concorrência dos importados, os carros produzidos no Brasil eram defasados e mais caros. Somente com a entrada dos importados, no início dos anos 90, que a situação começou a melhorar.
Não há nada de errado em Mercadante e o governo Lula desejarem estimular e fortalecer a indústria nacional. Muito importante. Mas não adianta pegar um atalho que vai trazer prejuízos para a população e para o meio ambiente.
O caminho passa, entre tantos quesitos, por uma gestão fiscal responsável, reformas econômicas e estruturais que estimulem a produtividade, e investimentos eficientes em educação. Os resultados podem demorar mais tempo, mas serão para valer.
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