Em entrevista ao Estadão, Stokel-Walker reconhece que o TikTok tem desafios no futuro. Porém, ele crava que a plataforma permanecerá no topo dos downloads de apps por muito tempo. Além da potência do algoritmo para entender tudo aquilo que os usuários gostam, sua criadora, a gigante de tecnologia chinesa ByteDance, aprendeu com erros de rivais, como o Facebook.
No livro TikTok Boom, lançado em abril no Brasil, o jornalista britânico Chris Stokel-Walker conta a trajetória da rede social, dos primeiros dias apenas na China à fusão com o Musical.ly. No livro, também é possível entender como a chegada de um app chinês fez barulho no governo americano, resultando em uma batalha que quase o fez ser banido no país.
Antes de virar rei nos celulares de adolescentes de todo o mundo, o TikTok passou por um longo desenvolvimento de erros e acertos dentro e fora da ByteDance. O caminho envolveu testes com música, notícias e memes. Mas foi o formato de vídeo curto que garantiu a sua popularidade.
“O que as pessoas pensam que foi sorte foi, na verdade, um movimento de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, desenvolvendo o sucesso do aplicativo a partir de seus predecessores”, diz Walker.
Sobre o temor de alguns concorrentes, como o Facebook, de que o TikTok é uma ameaça aos seus negócios, Walker diz que o que os preocupa, de fato, é saber quem vai dominar o mercado no futuro.
“Passamos os últimos 25 anos online seguindo regras que eram ditadas por poucas empresas do Vale do Silício, nos EUA. Vivemos nossas vidas pelas lentes do Facebook e do Instagram. Consumimos notícia pelo Twitter, com a empresa decidindo o que é importante. O que preocupa algumas pessoas é a ideia de um app de fora dos EUA se tornar popular e a ideia de quem vai ter o controle da internet no futuro.”
O Facebook, ele conta, já teve um app parecido, o Lasso, uma primeira tentativa de derrubar o TikTok, mas não funcionou. “O TikTok tem esse algoritmo que nos conhece melhor que nós mesmos e estamos vendo uma mudança no poder das empresas”, diz. “O TikTok aprendeu com os erros das outras redes sociais, como o Facebook, e isso faz com que ele evite ao máximo repeti-los.”
“A ideia de o TikTok virar um superapp no futuro, como o WeChat na China, pode acontecer. A ByteDance nunca planejou ser apenas mais uma empresa chinesa. Eles investem no formato”, avalia.
Nas últimas semanas o TikTok lançou uma versão do app similar ao BeReal, rede francesa de fotos ‘espontâneas’. Walker parte do princípio de que a empresa está ciente de como o Facebook colocou vários recursos diferentes em seu aplicativo e acabou assustando todo mundo. “Talvez haja uma razão por trás disso e pode ser que o TikTok seja bem-sucedido”, diz ele.
Uma das questões-chave e ainda desconhecidas, segundo Walker, é como as pessoas vão continuar olhando para o aplicativo. Análises da empresa de monitoramento SensorTower identificaram, pela primeira vez, de acordo com ele, que o crescimento do TikTok está ficando mais lento. “Esse é um risco constante quando um aplicativo se torna maduro. Esse é o risco que o TikTok corre em cada nova ferramenta que eles adicionam, de diluir o que os tornou populares.”
Sobre as discussões, lideradas pelos EUA, em relação à coleta e armazenamento de dados de usuários do TikTok e uma possível ligação com o governo chinês, Walker diz que o TikTok tem consciência sobre os dados que recolhe. “Eles precisam ser muito cuidadosos na forma em que lidam com isso”, diz. Vivemos em um mundo pós escândalo da Cambridge Analytica, no qual passamos a ver mais o que empresas de tecnologia fazem com os dados que armazenam.”
Para Walker, o TikTok não envia sistematicamente os dados para a China. “Mas o TikTok agrega os dados, extrai padrões gerais e envia esses padrões para o time de engenharia que está baseado na China, porque a maioria dos engenheiros da empresa trabalha lá.” A empresa, segundo ele, afirma que não compartilhara dados com o governo chinês e que nunca fará isso. “Se eu tivesse evidências de que o governo chinês tem acesso aos dados, eu reportaria, o que não significa, no entanto, que isso não aconteça. Não posso afirmar com 100% de certeza.”
Questionado sobre o eventual interesse de a plataforma moderar conteúdo político para evitar a desinformação, como a que é vista no Brasil hoje por causa das eleições, Walker diz que historicamente as plataformas fogem destas questões sensíveis. “Nenhuma plataforma de tecnologia quer moderar conteúdo político porque, não importa o que façam, vão desagradar à metade dos usuários”, diz.
“O TikTok, e as redes em geral, sempre podem se ‘livrar’ desse questionamento político dizendo ‘vamos permitir conteúdos em contas pessoais, mas não vamos permitir que exista publicidade paga’. Quando há dinheiro envolvido, as coisas começam a se tornar um problema”, conclui.
Com Estadão Conteúdo
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