"Acho que tenho TDAH". Essa é uma frase que muita gente já deve ter ouvido — ou até falado. O autodiagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade são comuns na internet. O que acende o alerta para o uso de medicações sem prescrições médicas.
As buscas pelo medicamento Venvanse dispararam em 2022, de acordo com dados do Google Trends. A droga, derivada da anfetamina, é um utilizada principalmente no tratamento do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Acontece que, por ser um estimulante do sistema nervoso central, o Venvanse caiu no gosto brasileiro. Não é raro encontrar pessoas compartilhando suas impressões e resultados após o uso do medicamento. Os públicos mais atraídos são executivos e estudantes, que buscam melhor performance em suas jornadas longas de trabalho e estudos.
O médico psiquiatra Gusttavo Fernandes explica que o uso errático do Venvanse apresenta vários riscos. “Aumento da pressão arterial, arritmia, palpitação, insônia, agitação, perda do apetite, ansiedade exacerbada e irritabilidade são alguns dos sintomas”.
Segundo o especialista, remédios da classe dos psicoestimulantes, como o Venvanse, têm potencial para abuso e podem causar danos à saúde. “Além dos riscos e efeitos colaterais adversos associados ao uso indiscriminado do Venvanse, é importante destacar que essa prática pode ter um impacto negativo adicional”, afirma.
O uso não autorizado e sem necessidade do medicamento pode levar a um aumento na demanda e ao desabastecimento do Venvanse nas farmácias, como já aconteceu em 2022.
A ação prejudica pacientes que realmente necessitam do medicamento para o tratamento do TDAH. Em setembro do ano passado, a Associação Brasileira do Déficit de Atenção chegou a publicar uma nota resposta ao comunicado da fabricante do Venvanse, Takeda, sobre a falta do medicamento nas farmácias.
Outro fator que colabora para a alta procura dessas medicações é o autodiagnóstico de TDAH. Além de contribuir para o consumo desnecessário de remédios, essa atitude prejudica a compreensão e o apoio adequado ao transtorno. “Isso pode levar à falta de acesso a diagnóstico e tratamento profissional, resultando em consequências negativas para a saúde”, pontua o médico psiquiatra.
Fernandes também explica que a romantização da internet estigmatiza e descredibiliza o TDAH, dificultando a aceitação e o suporte social. Além disso, a banalização dos sintomas, impulsionada por vídeos no TikTok com informações falsas ou confusas, leva a uma compreensão inadequada do transtorno.
“Essa desinformação reduz a seriedade do TDAH, dificultando o reconhecimento da necessidade de diagnóstico e tratamento adequados”.
Realizar um autodiagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade — ou até mesmo fazer testes de internet — e não procurar ajuda médica pode apresentar vários riscos. “É importante entender que o TDAH é um distúrbio neuropsiquiátrico complexo que requer avaliação e diagnóstico adequados por um especialista, como psiquiatra ou neurologista”, afirma Fernandes.
Um autodiagnóstico pode levar a erros na interpretação dos sintomas e a um diagnóstico incorreto, o que resulta em tratamento inapropriado. A falta de acompanhamento também impede o acesso ao tratamento que pode envolver psicoterapia e medicamentos. Sem esses cuidados, podem surgir complicações psicossociais, como dificuldades de relacionamento, problemas acadêmicos, baixa autoestima, ansiedade e depressão.
“O importante é a pessoa sempre procurar ajuda profissional, e nunca tentar se consultar com o ‘Dr. Google’ ou se automedicar, principalmente com remédios controlados igual o Venvanse”, relata o psiquiatra.
@curtonews “Acho que tenho TDAH”. Essa é uma frase que muita gente já deve ter ouvido — ou até falado. O autodiagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é comum na internet, o que acende o alerta para o uso de medicações sem prescrições médicas.
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