Como seguir em frente após uma demissão: a trend do desligamento “humanizado”

Em um momento (mundial) de demissões em massa, incluindo o Brasil, principalmente nos setores de tecnologia e comunicação, uma trend nas redes sociais discute o termo "demissão humanizada". Caixas de bombons, cartões com incentivos e cartas de recomendações são eficientes? Conversamos com uma doutora em psicologia social do trabalho sobre o "luto" do desligamento no emprego, para entender quais são as melhores práticas na hora da demissão e como os jovens podem seguir em frente após passar pela difícil experiência.

Publicado por
Marcela Guimarães

“Passar por uma demissão é brutal, certamente atinge a saúde emocional e traz consequências, principalmente quando é abrupta e sobretudo se o demitido está começando no mercado de trabalho. Porque essa busca por um trabalho é muito desgastante, os processos são difíceis e longos na maior parte das empresas”, analisa a psicanalista Liliane Toledo, doutora em psicologia social do trabalho.

“Ser demitido pode ser um processo devastador para alguns indivíduos, devido ao que chamamos de contrato psicológico”, afirma a psicanalista. O rompimento desse contrato, aliado à pressão por engajamento e resiliência no ambiente de trabalho, pode afetar significativamente a saúde mental do funcionário.

A demissão exige uma reorganização pessoal e a elaboração de um luto profissional, explica a especialista. Liliane ressalta a importância de não se cobrar para uma rápida recuperação, pois é necessário tempo para respirar, se reorganizar e lidar com as dimensões afetivas e financeiras envolvidas.

A polêmica “demissão humanizada”

A tendência da “demissão humanizada” surge como resposta à pasteurização das práticas de gestão de pessoas, avalia a psicanalista. “A demissão deve ser realizada individualmente, de preferência com a presença de um representante do RH, em uma abordagem pessoal e presencial. Antes da demissão, exceto em casos de corte de custos, é fundamental que o funcionário receba sinais e feedbacks sobre seu desempenho, permitindo que ele se prepare para a transição e busque novas oportunidades alinhadas ao seu perfil. As organizações devem considerar as consequências emocionais tanto para aqueles que partem quanto para os que permanecem”, pontua Liliane.

Uma postagem recente no LinkedIn viralizou e gerou uma grande polêmica. Havia uma foto de uma cesta de “mimos” dada a um funcionário no momento em que havia sido demitido, e uma mensagem de orgulho pela “demissão saudável”. O autor apagou a postagem mas a polêmica continuou engajando nas e virou piada.

A prática de oferecer presentes como bombons, balões e cestas de agradecimento no momento da demissão é questionada quanto à sua eficácia e respeito ao demitido. Segundo a psicanalista Liliane Toledo, se a empresa já tem o costume de oferecer presentes em outros momentos, isso até pode ser aceito.

No entanto, é importante questionar se essas demonstrações combinam com o contexto da demissão. Em vez disso, a psicanalista sugere que, inicialmente, a empresa pergunte ao trabalhador quais tipos de suporte podem auxiliá-lo nessa transição, como extensão do plano de saúde, cursos de reciclagem ou ajuda na recolocação no mercado de trabalho.

Algumas práticas, porém, são bem mais “saudáveis” e têm se destacado, como a contratação de consultorias para ajudar o profissional demitido a melhorar seu perfil no LinkedIn.

“É possível até que os antigos gestores recomendem o ex-empregado para vagas compatíveis no próprio LinkedIn”, lembra Liliane. “Eu soube de uma empresa que fez um corte – por questões financeiras – e compartilhou uma lista de demitidos com a concorrência, visando facilitar a recolocação desses profissionais”.

O faço para superar a demissão?

Para os mais jovens, a dica é fundamental é dar tempo para assimilar a perda, viver o “luto” e não levar tudo para o lado pessoal.

“É importante fazer uma autoanálise sobre sua relação no trabalho e não se deixar levar por ideias como ‘eu não valho nada’ e ‘não vou conseguir um trabalho novo’, que são bastante comuns”, aconselha Liliane.

A psicanalisa enfatiza a importância de fazer uma reavaliação do desempenho, focando no que está sob seu controle e buscando os pontos onde se pode melhorar, baseado nos feedbcks e na própria consciência sobre seu papel.

Ampliar as amizades e buscar apoio fora do ambiente de trabalho também é crucial para lidar com a dor do emprego perdido. A demissão pode ser uma oportunidade de aprendizado e crescimento pessoal.

@curtonews

Caixas de bombons, cartões com incentivos e cartas de recomendações são eficientes? Saiba mais sobre a trend da “demissão humanizada”. 😬

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