Ainda que não tenham benefícios comprovados, práticas que envolvem temperaturas extremas, como a hot yoga ou o mergulho em água gelada, estão ganhando adeptos pelo mundo porque trazem uma sensação de bem-estar imediato. O problema é que algumas dessas atividades podem fazer mal à saúde de pessoas com problemas de circulação, por exemplo, e é preciso tomar certas precauções antes de iniciar uma atividade como esta de forma mais intensa no seu dia a dia.
Parece loucura, mas mergulhar no mar frio após uma sessão de sauna, como é comum nos países nórdicos, tem virado hábito também em outros países. Outras práticas que envolvem mudanças de temperatura, como a hot yoga – na qual as posturas são praticadas em salas aquecidas a até 38°C – ou até as sessões de crioterapia – técnica que utiliza água gelada para aliviar sintomas de lesões esportivas – também estão se popularizando.
Especialistas alertam que submeter o corpo a temperaturas extremas pode trazer sérios riscos. Segundo a cardiologista Luciana Janot, do Hospital Israelita Albert Einstein, nadar no mar gelado, como fazem muitos moradores de países escandinavos, pode ser arriscado para quem tem problemas cardiovasculares.
“Esse susto da água gelada vai causar uma constrição imediata dos vasos, porque a gente tenta fazer com que o corpo perca menos calor, então ocorre o estreitamento dos vasos e um aumento da pressão arterial. Neste momento, pode ocorrer uma arritmia, porque há um estresse para o coração. Para quem já tem algum problema cardiovascular prévio, isso não é nada indicado”, explica Janot.
O médico Mike Tipton, professor da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, é um dos principais pesquisadores dos efeitos da imersão em água fria, ou Cold Water Immersion (CWI), como ficou conhecida a prática de mergulho gelado em inglês.
Para o especialista, apesar de a prática ter muitos adeptos, ainda não existem comprovações científicas de que a temperatura baixa é responsável pelos supostos benefícios à saúde atribuídos ao “cold plunge” (mergulho frio).
Embora os benefícios do mergulho gelado no mar não tenham sido comprovados, o uso do frio para tratar problemas específicos já possui evidências científicas sólidas.
É o caso da utilização de gelo para lesões esportivas, por exemplo. Esse princípio é o que está por trás de uma técnica chamada crioterapia, que mergulha partes do corpo em temperatura muito baixa para diminuir a inflamação dos tecidos.
“No caso da crioterapia, ela foi criada porque a gente sabe que o uso de gelo local em pequena quantidade tem poder analgésico, ou seja, alivia a dor, e é anti-inflamatório”, explica a médica do esporte Karina Hatano, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Dentre os protocolos de recuperação esportiva, o que a gente tem mais embasamento é o uso de gelo, por até 20 minutos, na área que foi treinada”, completa.
No entanto, ainda faltam evidências científicas para justificar o uso do gelo em outros contextos, para além do uso tópico por 20 minutos.
Apesar de não trazerem riscos para a maioria das pessoas, é importante checar se a saúde está em dia antes de aderir a elas.
“É importante sempre ter uma orientação médica e fazer um check-up antes de adotar atividades físicas mais intensas ou estratégias de recuperação. É preciso ter cuidado com essas práticas da moda”, avalia Hatano.
Além de uma avaliação prévia, os especialistas também recomendam se adaptar aos poucos às temperaturas extremas. No caso da sauna ou da hot yoga, por exemplo, o ideal é começar com períodos curtos e reforçar a hidratação antes e depois da prática.
“Em um ambiente quente e úmido, como o da hot yoga, a gente tem uma vasodilatação, e isso faz com que a gente tenha aumento de frequência cardíaca e queda da pressão arterial. Quem já é hipotenso [tem pressão baixa], ou sensível ao calor, num ambiente desse vai ter grande chance de passar mal. Todo mundo passa mal? Não. Tem gente que se acostuma? Sim, mas tem que ter alguns cuidados”, explica Janot.
Além de se manter hidratado, outra precaução importante é diminuir a intensidade da atividade para evitar lesões.
“O calor pode dar uma sensação de soltura, de analgesia, e a gente fica com a musculatura mais relaxada.. e fica mais fácil passar do ponto”, afirma a cardiologista Luciana.
Para o mergulho em água gelada, o ideal é começar com temperaturas intermediárias e aumentar o tempo de banho aos poucos, sem nunca ultrapassar a marca de 10 minutos.
“Se você sofre de doenças cardiovasculares, a sauna pode ser perigosa por si só, e a imersão em água fria também. E se você combina as duas práticas, você está dobrando suas chances de ter um problema”, afirma Tipton.
Os estudos que relacionam temperaturas extremas e benefícios à saúde são, muitas vezes, baseados nos relatos positivos de pessoas que já praticam essas atividades. Por isso, ainda é difícil avaliar o efeito dessas temperaturas em pesquisas sem vieses, explica o professor Mike Tipton, da Universidade de Portsmouth.
“Existem muitos estudos em que os pesquisadores perguntam às pessoas que praticam natação em águas geladas: ‘Você acha que é bom para você? E como você acha que é bom para você?’ E é claro que eles dizem que sim, porque seria muito idiota fazer algo que você não acha que é bom para você”, afirma Tipton. “Se você perguntar a um corredor: ‘Você acha que correr é bom para você?’. A chance de ele dizer não é muito pequena”, exemplifica o pesquisador.
Segundo os principais estudos sobre o tema, os benefícios que os praticantes dessas atividades mais relatam estão relacionados com a redução do estresse e uma sensação de bem-estar generalizada.
Fonte: Agência Einstein
@curtonews Hot yoga, crioterapia, sauna, banho gelado… Quais são os benefícios e riscos de temperaturas extremas? Confira a reportagem completa em nosso site! 📲
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