O Ateliê é um podcast criado por Chico Felitti e produzido pelo jornalista ao lado de Beatriz Trevisan. O podcast investigativo acompanha um grupo formado por ex-alunos, ex-funcionários e ex-colegas do dono da escola de arte chamada Ateliê do Centro, que fica na região central de São Paulo. A protagonista é a denunciante Mirela Cabral. Os entrevistados denunciam uma espécie de seita, comandada pelo “mestre” Rubens Espírito Santo, e detalharam crimes de violência, abuso psicológico e exploração financeira.
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Como foi feita a produção e apuração dos fatos para o podcast O Ateliê?
“A gente se jogou nessa apuração por sete ou oito meses. Como é uma coisa muito delicada, que envolve vítimas de vários abusos, é diferente porque você precisa respeitar a vítima e ceder muita coisa também. Saber o que a pessoa quer ou não que a gente fale”, relata Beatriz Trevisan, produtora e apresentadora de O Ateliê.
Beatriz também diz que relatos sensíveis foram deixados de fora, assim como informações e detalhes que pudessem fazer com que a vítima fosse identificada por familiares ou colegas.
A produtora explica que a gravação e edição de todos os episódios foram feitas antes do lançamento do podcast O Ateliê nas plataformas digitais.
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Quais cuidados legais é preciso ter em um podcast investigativo?
“O essencial é ter como confirmar tudo que a gente está dizendo e levando à público. Isso a gente tinha muito estruturado, muito concreto. São muitas pessoas relatando agressões ou algum tipo de abuso dentro do Ateliê do Centro, ou que não vivenciaram, mas que presenciaram isso acontecendo. A começar por isso, que são dezenas de pessoas. Em todas as denúncias, a gente consegue encontrar um padrão nessas violências“.
Além dos depoimentos das pessoas envolvidas, o podcast também possui outras provas, como:
- E-mails com ofensas do Rubens para discípulos;
- Endividamento das vítimas por exploração financeira;
- Entrevista com o Rubens Espírito Santo;
- Fotos e vídeos do Ateliê do Centro;
- Processo criminal que corre na Justiça.
Qual foi a situação mais marcante dessa apuração?
Beatriz cita dois momentos marcantes da apuração do podcast O Ateliê:
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- Ida à Delegacia da Mulher e ao IML para acompanhar a protagonista Mirela e outras denunciantes;
- Entrevista com o Rubens Espírito Santo no Ateliê do Centro.
“São entrevistas muito intensas, pesadas. E a gente, como profissional, tenta não demonstrar essas emoções, mas é muito difícil. Em muitos momentos, me senti emocionada por ouvir relatos tão fortes. É difícil, como mulher, não se tocar, porque a gente sabe que isso ainda é muito comum, que acontece todos os dias. A Mirela, por exemplo, é uma mulher forte, determinada. O que ela está fazendo me inspira”, diz Beatriz.
“A gente sabe que não é fácil uma mulher vir à público denunciar uma violência que ela sofreu. A gente não pode silenciar e fechar os olhos, fingir que não está acontecendo. Então já que aconteceu, que bom que eu estou aqui ouvindo isso, tendo a oportunidade de levar à público e causar alguma mudança, de ajudar na busca por justiça, por paz”, completa.
Como tem sido a repercussão do podcast O Ateliê?
Após o podcast A Mulher da Casa Abandonada e agora com O Ateliê surgiram denúncias de crimes feitas diretamente pra você, Beatriz, e para o Chico também?
“Várias pessoas têm procurado eu e o Chico [Felitti] pra relatar alguma história, seja algum crime que elas tiveram contato, ou que elas mesmo foram vítimas. Isso que é muito legal do jornalismo: dar esse espaço para as pessoas contarem a história delas. Como a gente mostrou no primeiro episódio de O Ateliê, a Mirela procurou o Chico pra contar a história dela depois que ela leu o livro dele sobre João de Deus”.
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Ouça o podcast O Ateliê:
O público pode esperar um novo podcast em breve?
“Nos próximos meses, devemos lançar um, mas bem mais leve do que esses últimos dois. Vai ser sobre pessoas comuns em dias extraordinários, situações singelas do dia a dia, mas cheias de significado. Então vai ter história de humor, romance, dor também… Histórias da vida mesmo”, revela Beatriz.
Que venham mais episódios para nós maratonarmos!