Os rankings de felicidade, que colocam nórdicos no topo, refletem a realidade?

Países nórdicos, como Finlândia, Dinamarca e Islândia, lideram ano após ano os rankings de felicidade mundial. No entanto, a definição de felicidade é subjetiva, levantando questionamentos sobre a validade desses rankings. O relatório World Happiness Report, associado à ONU, utiliza seis variáveis para calcular o índice de felicidade: PIB per capita, apoio social, expectativa de vida saudável, liberdade, generosidade e corrupção. Mas especialistas e até moradores desses países começam a contestar a utilidade dessa métrica.

Segundo o psiquiatra Alfredo Maluf Neto, do Núcleo de Medicina Psicossomática do Hospital Israelita Albert Einstein, não há consenso sobre a definição de felicidade. Biologicamente, ela está ligada a hormônios como serotonina e dopamina, mas também pode ser analisada sob uma perspectiva social.

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“Do ponto de vista médico, a definição de felicidade é muito ligada ao que a OMS – Organização Mundial da Saúde – determina, sobre bem-estar físico, saúde mental, bem-estar social. Do ponto de vista neurobiológico, ou seja, no cérebro, a felicidade se organiza no contexto de várias funções diferentes. Dentro dessas funções existem, por exemplo, hormônios que regulam o humor”, diz Maluf Neto

Arto Salonen,  professor na University of Eastern Finland e autor de diversos estudos sobre bem-estar na sociedade finlandesa, destaca a importância de separar desejos e necessidades, especialmente financeiras. Os finlandeses valorizam a segurança financeira, e este pode ser um dos motivos pelo qual os finlandeses aparecem no topo dos rankings: para eles, o importante não é aumentar a renda, mas saber que está ganhando suficiente para cobrir suas necessidades.

“Isso se refere a um velho ditado finlandês: quando você sabe o que é suficiente, você fica feliz”, lembra Salonen. 

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“De acordo com nossos estudos, não houve diferenças de felicidade estatisticamente significativas entre finlandeses de diferentes grupos de renda. Mas o interessante é que o sucesso financeiro percebido explica a felicidade. Os finlandeses conseguem separar suas necessidades e desejos relativamente bem”, explica.

A transição para um estilo de vida mais sustentável e ecológico também pode estar ligada a uma percepção maior de felicidade, segundo estudos conduzidos pela equipe de Salonen.

Existe pressão para ser feliz?

Em países como Dinamarca e Finlândia, as boas classificações são atribuídas a sistemas de bem-estar social que geram segurança e reduzem o estresse. No entanto, essa segurança também pode gerar pressão individual para ser feliz.

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A estudante Noora Ojala menciona os altos índices de suicídio na Finlândia, questionando a relação entre a felicidade superficial e a realidade dos habitantes.

“Às vezes, sinto que as classificações aumentam a pressão para me sentir feliz. Sabemos que temos muita sorte de morar em um país seguro e onde somos muito bem tratados. Também somos gratos porque a maioria de nós vive uma vida muito confortável”, argumenta. “Todo mundo tem as mesmas possibilidades de obter uma boa educação e sucesso na vida, mas, quando você não consegue e sente que falhou na vida, só pode culpar a si mesmo”, completa.

 Em 2019, o índice na Finlândia foi de 15 mortes por suicídio a cada 100 mil habitantes, enquanto a média da União Europeia foi de 10 casos a cada 100 mil.

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Afinal, os rankings refletem a realidade da maioria?

Írena Thormarsdóttir, estudante islandesa de 24 anos, acredita que os rankings não refletem a opinião da maioria dos habitantes da Islândia.

“Perguntei a alguns de meus amigos e eles não têm ideia de porque estamos sempre tão bem classificados. O tempo é quase sempre ruim, e os invernos escuros não ajudam, então acredito que esses rankings podem estar simplesmente focando nas perguntas certas que fazem o país parecer mais feliz do que é”, avalia a jovem. 

Dá pra reproduzir a “felicidade nórdica” em países como Brasil?

Devido à subjetividade dos critérios de felicidade, não faz sentido tentar reproduzir a cultura nórdica em outros países, como o Brasil.

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O psiquiatra Alfredo Maluf Neto destaca as diferenças culturais e a importância de valorizar a própria identidade nacional. A busca pela felicidade envolve hábitos saudáveis, boa alimentação, atividade física, sono adequado e relacionamentos saudáveis. A percepção contínua de felicidade está ligada a um acúmulo de experiências positivas na vida, e isso é individual.

(Fonte: Agência Einstein)

@curtonews

Afinal, os rankings de felicidade refletem a realidade da maioria? 🤔

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