Você sabe o que é grazing? E como esse hábito pode prejudicar sua saúde?

O isolamento da pandemia e o home office foram fatores de estímulo do mau hábito de "beliscar" comida o tempo todo. Pode ser aquele biscoito inofensivo, um pedaço de chocolate, uma porção de castanhas ou até mesmo uma fruta. Esse é um comportamento tem nome e pode indicar um risco à saúde quando se torna repetitivo e foge ao controle. Segue o 🧶...

Publicado por
Marcela Guimarães

Grazing (pastando, em tradução livre do inglês) é o nome que se dá também para esse ato de conumir comidinhas ao longo do dia, o famoso “beliscar”.

O termo ainda é pouco estudado no Brasil e sua definição foi atualizada recentemente: nada mais é que Trata-se da ingestão de pequenas quantidades de comida de forma repetitiva e não planejada, sem ser uma resposta ao estímulo de fome.

Também se caracteriza pela perda de controle do que é consumido, mas é diferente da compulsão ( que tem mais a ver com consumo de uma quantidade grande de alimentos de uma vez só).

“Procuro sempre um doce nessas horas, pode ser bala, bombom, chiclete…traz aquela sensação de alívio momentâneo”, diz a biomédica Silvia Pompeu. Assim como a maioria da população – que se isolou no auge da covid-19 – ela também percebeu que essa mania de “beliscar” ficou mais intensa.

“Até hoje, toda vez que estresso forte, paro tudo e procuro algo doce pra comer. Normalmente é um chocolate, porque me faz sentir melhor, mesmo que por pouco tempo”, conta Silvia.

Imagem: Unsplash

Em geral, o grazing está associado ao momento do dia em que procuramos algum “agrado”, relaxamento ou alívio na comida, para compensar alguma situação. Quem nunca? 🤫

Identificar esse comportamento pode ajudar na prevenção…

…de outros transtornos associados a problemas psicológicos e alimentares, entre eles, a compulsão.

A psicóloga Marília Consolini Teodoro de Paiva, doutora em psicologia, desenvolveu uma ferramenta de rastreio por meio de uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

O estudo validou esse instrumento que é capaz de identificar sinais problemáticos desse comportamento e indicar a necessidade de encaminhamento para uma avaliação clínica para que seja feito o diagnóstico. 

Como funcionou a pesquisa?

O estudo foi dividido em vários estudos, começando por uma revisão sobre controles alimentares e comportamentos associados – a obesidade está correlacionada a transtornos alimentares.

Depois, o grupo fez uma revisão sobre o grazing e como ele se manifestava na população em geral.

Para chegar aos dados brasileiros, a psicóloga investigou e avaliou a manifestação desse comportamento em uma amostra de 823 pessoas – sendo 542 delas com peso considerado normal e 281 com sobrepeso ou obesidade.

Os participantes receberam um questionário online, que foi adaptado de uma metodologia original desenvolvida em Portugal e que foi validado para a população do Brasil. 

Foram avaliados 12 itens que identificam o comportamento dividido em duas subescalas:

  • o grazing repetitivo (que não é tão prejudicial porque é associado ao nível mais baixo de desregramento da alimentação)
  • o grazing compulsivo, que de fato prejudica a saúde por estar mais associado ao descontrole.
Quem nunca parou o trabalho no meio da tarde pra comer uma guloseima e aliviar o estresse? Mas cuidado: o mau hábito pode ser prejudicial à saúde. Imagem: Unsplash

Regulação emocional

Os resultados mostram que o grazing funciona como um mecanismo de regulação emocional – ele é praticado em busca de alívio de outros sintomas (como depressão, estresse e ansiedade), sendo que o estresse aparece como mediador na manifestação desse comportamento.

“Isso explica a correlação com os sintomas de estresse e ansiedade, associado a níveis mais altos de peso. Não podemos afirmar que o estresse causa o grazing, mas ele tem alta relevância na interferência desse comportamento”, diz a pesquisadora.

O estudo mostra também que o grazing compulsivo apareceu de forma mais significativa na amostra de pessoas com obesidade.

Além disso, os resultados corroboram estudos internacionais e confirmam que o grazing compulsivo está mais associado aos transtornos mentais, especialmente ansiedade, depressão e estresse.

A psicóloga ressalta, no entanto, que a ferramenta não faz diagnóstico do grazing, ela apenas sinaliza o problema.

“A partir do resultado desse questionário, dependendo da conclusão, a pessoa é encaminhada para uma avaliação clínica para entender como esse comportamento se manifesta de forma mais aprofundada. O meu trabalho parou na definição do instrumento para fazer essa triagem para acompanhamento, mas não entrou na questão do diagnóstico”, explicou.

O fato de comer várias vezes nem sempre é um comportamento prejudicial

“A identificação do grazing tem mais a ver com o nível da perda de controle com aquela ação do que com a quantidade de vezes que a pessoa ‘beliscou’ algum alimento. Posso ter ‘beliscado’ cinco vezes no dia, mas com total controle. Ao mesmo tempo, posso ter feito isso menos vezes, com perda de controle desde a primeira vez”, explica Marília. 

Esse comportamento vai se tornar um problema quanto mais ele estiver associado à perda de controle – daí a importância de existir ferramentas para identificá-lo o quanto antes.

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(Com Agência Einstein/Fernanda Bassette)

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Marcela Guimarães

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