Amazônia
Créditos da imagem: Canva

Amazônia passa por desgovernança e destruição, e toda a humanidade pode pagar por isso, diz instituto

Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), denuncia o descumprimento da lei e a ocupação de terras públicas de maneira indiscriminada, além do descontrole governamental para conter as quadrilhas que atuam na região. "É preciso haver um choque de comando nessas áreas para mostrar que o governo federal e os governos estaduais têm controle do território."

HOJE É O DIA DA AMAZÔNIA

Dia da Amazônia é comemorado em 5 de setembro e tem como principal objetivo conscientizar as pessoas sobre a importância da maior floresta tropical do mundo, cuja biodiversidade está conectada com a vida de todo o planeta e tem sofrido ataques constantes. Essa data foi escolhida como forma de homenagear a criação da Província do Amazonas (atual Estado do Amazonas) por D. Pedro II, em 1850.

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Desgovernança

A diretora do IPAM faz um diagnóstico bem claro do mal que sufoca a floresta. “A Amazônia está passando por um processo de desgovernança com sensação de impunidade muito grande, o que resulta no descumprimento da lei e na ocupação de terras públicas de maneira indiscriminada”, afirma Ane Alencar.

“O resultado disso: pouco mais da metade – cerca de 51% – de tudo que é desmatado no bioma Amazônia tem acontecido em terras públicas“, diz.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) é uma organização científica, não governamental, apartidária e sem fins lucrativos que desde 1995 trabalha pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Tem como propósito consolidar, até 2035, o modelo de desenvolvimento tropical da Amazônia, por meio da produção de conhecimento, implementação de iniciativas locais e influência em políticas públicas, de forma a impactar o desenvolvimento econômico, a igualdade social e a preservação do meio ambiente. (IPAM)

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“É preciso pegar as quadrilhas que ocupam de forma irregular as terras públicas. Hoje esse tem sido um investimento de baixo risco, porque eles não sofrem nenhum tipo de represália. Precisamos identificar a ligação desse tipo de negócio com a indústria da madeira, da extração do ouro, do tráfico de drogas, que hoje parecem estar interligados e atuando nas frentes de desmatamento da Amazônia (Sul do Amazonas, Sudoeste do Pará, Acre, Norte de Rondônia e Noroeste do Mato Grosso).”

Ouça abaixo o que diz Ane sobre desgovernança e ações criminosas na Amazônia:

Desmatamento recorde era esperado e só não foi maior devido ao La Ninã

O aumento das queimadas – que registraram recorde em agosto deste ano – já era algo esperado pelo IPAN “por conta de dois principais fatores: o alto desmatamento (que deixa muito material combustível para queimar) e também o fato de as pessoas estarem usando mais fogo para manejar pastagem, o que aumenta o número de ocorrências e focos de queimadas”, explica a diretora. “O período pré-eleitoral também contribui tanto para o desmatamento como para o manejo com fogo”, diz Ane.

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“Ainda bem que, no ano passado e este ano, a Amazônia está sob o impacto do fenômeno climático La Niña – que traz umidade pra região – retardando a estação seca em algumas regiões, o que reduziu os incêndios”, explica Ane Alencar.

Como o fenômeno La Niña impacta no clima do Brasil?

Ele representa um esfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico em virtude do aumento da força dos ventos alísios (deslocamentos de massas de ar quente e úmido em direção às áreas de baixa pressão atmosférica das zonas equatoriais do globo terrestre). No Brasil, em virtude deste fenômeno, ocorrem chuvas mais abundantes na Amazônia, com aumento na vazão dos rios e enchentes. No Nordeste, isso também significa maior precipitação. No Sul, as temperaturas sobem e há maior ocorrência de secas. No Sudeste e Centro-Oeste, os efeitos são imprevisíveis. (BBC Brasil)

Segundo a diretora do IPAN, se este ano tivéssemos enfrentando a situação climática de 2019 – mais quente e seca – “com certeza teríamos ainda mais fogo do que a gente viu em agosto e teria batido um recorde ainda maior”.

O que o IPAM defende para a Amazônia?

O IPAM é uma instituição de pesquisa independente, do terceiro setor, cuja principal meta é ter uma Amazônia ambientalmente saudável, economicamente próspera e socialmente justa.

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Ouça abaixo o que diz a especialista:

“Não queremos a Amazônia em uma redoma. Queremos que o desenvolvimento aconteça, mas que leve em consideração o direito e a qualidade de vida dos povos e comunidades tradicionais, bem como os ecossistemas.”

Segundo Ane Alencar, o IPAM identifica os principais problemas – desmatamento, queimadas – e busca apontar os possíveis caminhos para solucioná-los. O principal problema atualmente é o desmatamento.

“Estamos hoje em um mundo com emergência climática e todos temos que fazer alguma coisa. No Brasil, temos que reduzir o desmatamento.”

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O Dia da Amazônia

“A Amazônia é um patrimônio para os brasileiros e para o mundo. A floresta amazônica tem um papel regulador climático importante, pois recicla toneladas de água por dia – através da evapotranspiração das árvores – e estoca toneladas de carbono, que estariam na atmosfera ajudando a aquecer ainda mais o planeta”, reforça Ane Alencar.

A especialista alerta: a Amazônia em pé é a casa de muitas espécies – algumas até ainda desconhecidas – que podem representar potenciais econômicos e farmacológicos importantes para a humanidade.

“A Amazônia é um berço de culturas, que levou milhares de anos para se estabelecer como está e, nos últimos 30 anos, nós acabamos muito com ela. Se a gente continuar nessa pegada de rápida destruição – mesmo com 80% da região ainda em pé – vamos acabar com um patrimônio ainda desconhecido e pagar um preço por isso.”

Se o ritmo de destruição atual continuar, toda a humanidade vai pagar o preço.

Ouça o alerta pesquisadora:

“A pergunta que fica é: Hoje, estamos perdendo esse patrimônio? E quem está ganhando com isso?

“São os grileiros, as pessoas que estão fazendo isso de forma indiscriminada, para ganharem dinheiro fácil, porque o risco é muito baixo. Estamos falando só dos 51% de desmatamento que tem ocorrido em terras públicas. Nem estou falando das privadas. Se as pessoas soubessem quanto custa para restaurar uma floresta, não pensariam em desmatar”, conclui Ane.

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