A presidente da maior agência de pop juvenil japonês anunciou a sua demissão nesta quinta-feira (7), após reconhecer os abusos sexuais cometidos durante décadas por seu tio e antecessor contra jovens contratados na cena musical do país.
“A agência e eu reconhecemos pessoalmente os abusos sexuais cometido por Johnny Kitagawa”, declarou em coletiva de imprensa Julie Fujishima, sobrinha do rei do pop japonês, que morreu em 2019 aos 87 anos.
“Peço desculpas às suas vítimas do fundo do meu coração”, acrescentou.
A demissão de Fujishima ocorre uma semana após a publicação dos resultados de uma investigação que expôs as agressões sexuais cometidas por Johnny Kitagawa contra muitos jovens talentos durante décadas.
Kitagawa fundou a agência Johnny & Associates em 1962, que reinou suprema na indústria cultural japonesa durante décadas e lançou bandas famosas de jovens estrelas como Smap, Arashi e Tokio.
As acusações de abuso sexual e exploração de menores já haviam sido mencionadas há muito tempo na imprensa local. Em 1999, o semanário Shukan Bunshun publicou uma série de artigos apresentando várias acusações de meninos contra ele.
No entanto, Kitagawa recebeu indenização por difamação nesses artigos, embora a decisão tenha sido parcialmente anulada em recurso.
Julie Fujishima nomeou o cantor e ator Noriyuki Higashiyama, veterano da agência, para substituí-la.
“Levará muito tempo até que possamos reconquistar a confiança do povo”, disse Higashiyama. “Vou dedicar o resto da minha vida para resolver este problema”, acrescentou.
Fujishima explicou que, no entanto, permaneceria no conselho de administração da agência para ajudar a “compensar” as vítimas.
Durante outra coletiva de imprensa, as supostas vítimas de Kitagawa reagiram positivamente aos anúncios da agência, embora sintam que não são suficientes.
“As cicatrizes que ficaram em meu coração nunca desaparecerão completamente”, declarou Yukihiro Oshima, que foi um dos meninos “Johnny’s” no final dos anos 1990.
A polêmica surgiu após a transmissão este ano de um documentário do canal de televisão público britânico BBC e das denúncias públicas de uma das suas supostas vítimas.
Depois, o cantor japonês-brasileiro Kauan Okamoto falou publicamente em maio sobre sua experiência de ter sido agredido sexualmente por Kitagawa em diversas ocasiões.
A chefe da agência de talentos pediu desculpas, mas negou qualquer conhecimento das ações de seu antecessor.
A agência encomendou uma comissão composta por um advogado, um psiquiatra e um psicólogo para investigar o assunto e estimou que pelo menos “várias centenas” de jovens foram agredidos sexualmente por Kitagawa.
O relatório da comissão cita descrições precisas de abuso sexual recolhidas durante entrevistas com 41 supostas vítimas de agressão e depoimentos de funcionários da agência.
Recomendou a renúncia de Fujishima, que sucedeu Kitagawa em 2019, argumentando que ela já sabia das acusações há algum tempo, mas decidiu fechar os olhos.
Segundo a investigação, as agressões sexuais contra jovens talentos podem remontar à década de 1950, antes mesmo da fundação da agência.
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