Paris - O presidente Lula está certo em viajar bastante pelo mundo, se reunindo com autoridades, participando de eventos como o que começou nesta quinta-feira aqui em Paris para discutir um novo pacto financeiro global ancorado da sustentabilidade ambiental. A imagem do Brasil foi jogada na lixeira por seu antecessor e precisa ser resgatada.
Mas embora Lula esteja empenhado nesse esforço, ele já deve ter percebido que não é mais o Lula do primeiro mandato, de 2003, 2004. Naqueles tempos, as viagens internacionais do presidente – e testemunhei várias, inclusive aqui na França – eram marcadas por uma enorme expectativa, tanto entre autoridades estrangeiras como também de populares, que queriam de qualquer jeito ver o presidente brasileiro. Me recordo que em uma ocasião em Londres, Lula pareceria uma estrela de Hollywood, atraindo pequenas multidões e gritos de tietagem.
Passados tantos anos e tantos eventos, a imagem de Lula, embora ainda positiva na imprensa estrangeira, já não move corações como antigamente.
A agenda de Lula 3 no exterior, até aqui, é coerente com o posicionamento ideológico do PT. Alerta sobre a emergência ambiental, diminuição das disparidades entre o Norte e o Sul, por exemplo. Mesmo um discurso mais duro nas negociações de um acordo comercial com a União Europeia fazem parte do jogo.
O problema é que todos esses pontos relevantes estão sendo ofuscados por uma questão ainda mais importante: a guerra na Ucrânia.
As reiteradas declarações de Lula que praticamente inocentam a Rússia de Vladimir Putin de ter sido a única responsável pela deflagração do conflito acabam colocando o Brasil – de fato – à margem do tema mais importante do cenário mundial neste momento. E, sim, debilita o potencial do Brasil em influenciar em outras áreas. É um enorme tiro no pé da política externa brasileira.
Se Lula quer mesmo ter um papel não decorativo na busca de uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia – e por tabela em outros temas -, deveria sentar-se com seus assessores e reconhecer os fatos como tais. Isso significa dialogar com Putin? Claro que sim. Significa também inocentar Putin? Óbvio que não.
A boa e competente diplomacia, pragmática, exige tolerância, diálogos construtivos, mas posições firmes e éticas.
Isso vale também para os recentes afagos nas ditaduras, como a de Maduro na Venezuela.
Se Lula tiver a coragem e a humildade de rever esses equívocos talvez sua estrela volte a brilhar com mais força no exterior. Mas é bom não perder tempo.
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