Reunião do clima de Paris chega ao fim com pressão para imaginar nova ordem financeira

A reunião sobre o clima de Paris entrou nesta sexta-feira (23) no segundo e último dia de trabalhos, com a pressão de alcançar resultados que estabeleçam uma nova ordem financeira mundial, capaz de atender plenamente a luta contra o aquecimento global.

Representantes de mais de 100 países participam desde quinta-feira do encontro, que pretende desbloquear bilhões de dólares de dinheiro público e privado, indispensáveis para a transição energética e a adaptação dos países vulneráveis à mudança climática.

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As negociações têm a participação de quase 40 chefes de Estado e de Governo, incluindo o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, além de representantes da sociedade civil e executivos de bancos regionais de desenvolvimento.

O desafio passa por modernizar o papel das instituições multilaterais como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que segundo o clamor dos países do Sul devem ser plenamente orientados a suas necessidades na luta contra a mudança climática, o combate contra a pobreza, o desenvolvimento humano e a proteção da biodiversidade.

Mas a confiança é reduzida entre os países mais vulneráveis, reunidos no grupo V20 (composto por 58 países), após uma série de promessas não cumpridas por parte das nações mais desenvolvidas.

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O presidente do Quênia, William Ruto, declarou à AFP que compareceu à reunião “não para pedir ajuda” aos países ricos, e sim para obter uma reforma da arquitetura financeira mundial que permita aos países em desenvolvimento “participar na solução”.

Entre as possíveis medidas estão o alívio da dívida, a ampliação da capacidade de empréstimo dos organismos financeiros multilaterais, a mobilização do setor privado e um novo sistema tributário.

Na questão da dívida, alguns gestos foram anunciados na quinta-feira.

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Os países credores de Zâmbia aceitaram reestruturar 6,3 bilhões de dólares da dívida do país africano, que declarou moratória em 2020.

E o Banco Mundial afirmou que adotará novas “ferramentas, como oferecer uma pausa no pagamento da dívida” em caso de catástrofes.

O FMI anunciou que alcançou o objetivo de redistribuir 100 bilhões de de dólares de direitos especiais de saque prometidos aos países pobres para o desenvolvimento e a transição climática.

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“Plano Marshall” de investimentos

“A crise climática implica um grande plano Marshall global de investimentos”, baseado na taxação das transações financeiras e em “trocar dívida por ação climáticas”, afirmou o presidente colombiano, Gustavo Petro, na quinta-feira.

O imposto sobre as transações financeiras é algo muito difícil de concretizar na reunião de Paris, mas a presidência francesa acredita que existe margem de manobra para promover uma taxa sobre as emissões de carbono do transporte marítimo.

Neste sentido, o presidente francês Emmanuel Macron pediu nesta sexta-feira uma “mobilização” para a adoção de taxas internacionais sobre as transações financeiras, as passagens aéreas e o transporte marítimo, com o objetivo de financiar a luta contra a pobreza a e a mudança climática.

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A França expressou a esperança de que este ano a promessa dos países ricos de contribuir com 100 bilhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento para ajudá-los na luta contra a mudança climática seja finalmente cumprida.

Uma quantia prometida em 2009, que seria atendida com três anos de atraso em relação ao prazo previsto de 2020 e que deve ser certificada pela OCDE.

Lula com Macron

A reunião de Paris também é marcada por vários encontros bilaterais.

O presidente Lula teve quatro reuniões na quinta-feira, com os presidentes da África do Sul e de Cuba, Cyril Ramaphosa e Miguel Díaz-Canel, com o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, e com o presidente da próxima reunião de cúpula do clima da ONU (COP28), Sultan al Jaber, dos Emirados Árabes Unidos.

Após o fim dos trabalhos do encontro de Paris, Lula almoçará com Macron no Palácio do Eliseu para conversar sobre a ratificação do acordo entre UE e Mercosul.

Uma reunião na qual Macron chegará sob pressão dos agricultores franceses, que exigem um “não firme e definitivo” ao acordo em seu formato atual por questões de regulamentação ambiental e sanitária. Ao mesmo tempo, Lula prometeu defender os interesses do agro brasileiro.

(Com AFP)

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