Na tentativa de barrar novos ataques em escolas - ao menos 4 em um mês - e encerrar com uma onda de boatos e ameaças em torno do dia 20 de abril (data do massacre de Columbine nos EUA) , estudiosos tentam buscar caminhos e estratégias que passam por compreender o problema, dialogar com a sociedade e partir para ações que não sejam apenas na área da segurança.
“Criar protocolos de orientação para pais e professores sobre como agir em casos de ameaça, violência, agressividade e incivilidade”, “criar serviço de apoio e escuta de psicólogos e assistentes sociais”, principalmente “debelar esse clima de violência e intolerância” que se estabeleceu no país, nos últimos anos, são algumas das sugestões do sociólogo Rudá Ricci, pesquisador dos temas educação e cidadania.
O sociólogo acredita que gravações com boatos, desinformação e ameaças, que antes pareciam atitudes descoordenadas, tem sido orquestradas para causar caos no país, à exemplo do que ocorreu em 8 de janeiro.
“Não podemos negar que há uma inteligência por trás disso. Há mensagens, por exemplo, sobre eventuais ataques em universidades. Essas organizações extremistas no país estão querendo construir um novo 8 de janeiro de 2023 (dia de atos terroristas contra os Três Poderes). Agora, envolvendo a educação”.
Na opinião pesquisadora Katia Dantas, consultora para implementação de práticas em proteção infantil e ambientes escolares, a violência nas unidades de ensino é complexa, e por um militar na porta não vai resolver o problema.
“A gente precisa entender que segurança é diferente de proteção. Hoje, observamos que muitos dos atentados são de crianças cometendo violência contra outras crianças e professores. São raros os que vêm de fora pra cometer um atentado dentro da escola”.
Katia Dantas destaca que grande parte desses atentados tem foco em violência sistemática na vida da pessoa que agride, como histórico de bullying, intimidações e abusos familiares, e essas situações dão sinais na escola.
“É urgente que as escolas aprendam a identificar um abuso. A gente precisa começar a modificar essa percepção. Hoje, por exemplo, nós sabemos que as habilidades socioemocionais partem da base curricular nacional. Mas pouquíssimos pais sabem exigir das escolas”, diz Katia Dantas.
Diversos parlamentares protocolaram propostas de iniciativas para impedir novos atentados escolares, a maioria delas passa por questão de segurança com instalação de detectores de metais, vistoria de mochilas e guardas nas portas. O Instituto Sou da Paz, ONG que trabalha no enfrentamento à violência, alerta, no entanto, que a maioria delas é ineficaz.
Em nota pública, o Instituto lembra que os Estados Unidos enfrentam uma situação semelhante desde 1999, quando aconteceu o massacre de Columbine, e desde então, as mesmas medidas hoje propostas pelos parlamentares brasileiros passaram a ser implementadas por lá. Nenhuma delas resolveu: massacres ainda maiores ocorreram depois disso, como ocorreu em Parkland, na Flórida, em 2018.
“As evidências mostram que as iniciativas que direcionam investimento apenas em mais segurança dentro das escolas não funcionam”, aponta o instituto. O principal investimento deve ser em identificar conflitos, bullying e lidar com eles, fortalecendo a estrutura escolar e a capacidade dos professores e equipe técnica para isso, além de trazer apoio para a saúde mental dos trabalhadores e estudantes”, recomenda.
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Heleno Araújo, lembra ainda que há desigualdades marcantes no ambiente escolar do país: instituições em boas condições e outras sem energia elétrica; profissionais que recebem em dia e com adequadas condições de trabalho, outros não.
“Há muito a ser feito em busca de um ambiente minimamente em condições de garantir segurança e paz, tranquilidade e solidariedade dentro do espaço da escola e fora dela”, avalia. Ele conta que recebeu foto de uma turma em município goiano, em que as crianças apareciam em uma espécie de exercício de tiro, como tarefa de uma escola cívico-militar. “Isso desconfigura completamente a perspectiva de formação humana que nós queremos. ”
(Com informações da Agência Brasil)
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