Dois dias depois de grandes protestos em várias cidades do país contra a política rígida de confinamento, a China anunciou, nesta terça-feira (29), que vai acelerar a vacinação entre os idosos com mais de 80 anos contra a covid-19. A Comissão Nacional da Saúde também prometeu continuar aumentando a taxa de vacinação de pessoas de 60 a 79 anos. A notícia repercutiu na Bolsa de Hong Kong, que fechou com forte alta.
A limitada cobertura de vacinação entre os idosos é um dos argumentos do governo comunista para justificar sua política de saúde rígida, que inclui confinamentos prolongados, quarentenas no momento da chegada do exterior e testes praticamente diários para a população.
Apenas 65,8% das pessoas com mais de 80 anos estão com o esquema de vacinação completo no país, informaram diretores da Comissão. Mas o avanço na cobertura vacinal poderia oferecer à China uma saída para sua política de “covid zero”.
Em vigor há quase três anos, esta política foi alvo da revolta popular durante o fim de semana, com as maiores manifestações registradas no país desde o movimento pró-democracia de 1989.
A frustração de muitos com o sistema político chinês também influencia os protestos. Alguns manifestantes chegaram a pedir a renúncia do presidente Xi Jinping, que conquistou recentemente o terceiro mandato.
O elemento que desencadeou os protestos foi o incêndio da semana passada em um prédio de Urumqi, capital da região de Xinjiang (noroeste), que deixou pelo menos 10 mortos. Muitos chineses afirmam que os trabalhos dos bombeiros foram prejudicados pelas restrições provocadas pela estratégia “covid zero”, o que o governo de Pequim nega.
As cidades chinesas de Pequim e Xangai estavam sob forte esquema de segurança nesta terça-feira, após as grandes manifestações exigindo liberdade política e o fim dos confinamentos.
Na segunda-feira à noite, na cidade de Xangai, perto do local onde aconteceram protestos no fim de semana, os proprietários dos bares afirmaram à AFP que receberam ordens para fechar as portas às 22 horas sob a alegação de “controle da epidemia”.
Policiais também estavam posicionados nas saídas das estações de metrô. Jornalistas da AFP observaram o momento em que agentes prenderam quatro pessoas e depois liberaram uma. Um repórter viu 12 viaturas policiais em 100 metros ao longo da rua que concentrou os protestos de domingo.
Em Hong Kong, dezenas de estudantes se reuniram para prestar homenagem às vítimas do incêndio em Urumqi. “Não desviem o olhar, não esqueçam”, gritaram os manifestantes.
Em Hangzhou, a quase 170 quilômetros ao sudoeste de Xangai, pequenos protestos foram registrados em meio ao intenso esquema de segurança no centro da cidade.
“As autoridades aproveitam o pretexto da covid, mas utilizam os confinamentos excessivamente rígidos para controlar a população chinesa”, declarou um manifestante de 21 anos.
O governo chinês insiste na política de ‘covid zero’, mas há sinais de que as autoridades locais pretendem flexibilizar algumas regras para conter os protestos.
Em Urumqi, um funcionário do governo local disse que a cidade pagaria 300 yuanes (42 dólares) a cada pessoa “de baixa renda ou sem renda garantida” e anunciou uma moratória de cinco meses no aluguel para algumas famílias.
Em Pequim foi proibido fechar com cadeado os portões das áreas residenciais, informou no domingo a agência estatal Xinhua. A prática desencadeou uma revolta por deixar as pessoas trancadas diante de pequenos surtos de contágio.
Um influente analista político da imprensa estatal indicou que os controles contra a covid serão ainda mais reduzidos e que a população “ficará tranquila em breve”.
Diante da esperança de que o governo da China flexibilizará a política anticovid, a Bolsa de Hong Kong encerrou a sessão de terça-feira em forte alta de 5,24%.
A Bolsa de Xangai fechou em alta de 2,31%, enquanto a Bolsa de Shenzhen, a segunda mais importante do país, avançou 2,14%.
(Com AFP)
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