O regime militar que emergiu de um golpe de Estado no Níger mostrou, nesta terça-feira (8), pouco interesse nas propostas de diálogo dos seus vizinhos da África Ocidental e dos Estados Unidos para evitar uma intervenção militar.
Os militares que tomaram o poder informaram à Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) que não podem receber uma delegação deste bloco regional por motivos de “segurança”.
“O contexto atual de indignação e irritação após as sanções impostas pela Cedeao não nos permite receber esta delegação em condições de serenidade e segurança”, disse o Ministério das Relações Exteriores do Níger à organização regional.
A Cedeao tentou enviar uma delegação à capital do Níger, Niamey, nesta terça-feira, antes de uma reunião para abordar a crise na próxima quinta (10) em Abuja, capital da Nigéria, que detém a presidência rotativa da entidade regional.
O Níger é um país fundamental para as potências ocidentais no combate aos jihadistas na região do Sahel. A França tem 1.500 soldados no país, e os Estados Unidos, 1.000.
A Cedeao impôs sanções financeiras contra o Níger depois que os militares derrubaram o presidente eleito democraticamente, Mohamed Bazoum, em 26 de julho.
Este bloco de países também deu um ultimato aos militares para que devolvessem o poder a Bazoum, sob ameaça de intervenção no país. O prazo expirou no domingo, mas a organização não cumpriu suas ameaças, privilegiando o diálogo.
“O adiamento da missão anunciada” para esta terça-feira em “Niamey é necessário, assim como a revisão de alguns aspectos do programa”, afirmaram os militares na carta datada de segunda-feira.
O programa “inclui reuniões com algumas personalidades que não podem ocorrer por razões óbvias de segurança, em um clima de ameaça de agressão contra o Níger”, acrescenta a carta.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, alertou em entrevista divulgada nesta terça-feira que mercenários russos do grupo Wagner tentam se aproveitar da instabilidade no Níger.
“Acho que o que aconteceu, e o que continua acontecendo no Níger, não foi instigado pela Rússia ou por Wagner, mas (…) eles tentaram se aproveitar”, afirmou Blinken na entrevista, segundo a BBC.
“Onde quer que o grupo Wagner tenha ido, a morte, a destruição e a exploração o acompanharam”, acrescentou.
O adiamento da visita do bloco regional se soma a outra mensagem enviada pelos militares, a nomeação de um primeiro-ministro civil, Ali Mahaman Lamine Zeine, interpretada como um primeiro passo para a designação de um governo de transição.
Os Estados Unidos enviaram a número dois de sua diplomacia, a subsecretária de Estado Victoria Nuland, para Niamey na segunda-feira.
A alta funcionária se reuniu com autoridades, mas o general Abdourahamane Tiani, que lidera os militares que tomaram o poder, não participou do encontro. Ele também não se reuniu com o presidente deposto, que está detido em sua residência.
“As negociações foram extremamente francas e, às vezes, muito difíceis”, disse Nuland.
A diplomata explicou que havia proposto “inúmeras opções” e os “bons ofícios” dos Estados Unidos para acabar com o golpe. “Não diria de forma alguma que esta oferta foi aceita”, reconheceu.
A França, que foi a potência colonial deste país até sua independência em 1960, afirmou nesta terça-feira que apoia “os esforços dos países da região para restabelecer a democracia” no Níger.
Desde o golpe, várias manifestações entoam palavras de ordem contra a França.
O novo regime mantém, por sua vez, excelentes relações com Mali e Burkina Faso, dois países que também são governados por militares após golpes de Estado nos últimos anos.
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