Começou a valer a nova regra do Conselho Federal de Medicina (CFM), em que os médicos não podem mais prescrever terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA) para pacientes que querem acelerar a criação de músculos com única finalidade estética. Isso vale para o ganho de massa muscular ou de melhoria do desempenho esportivo, para qualquer pessoa que não tenha de fato uma deficiência na produção hormonal.
Os EAAs são um grupo de substâncias sintéticas formadas à base do hormônio testosterona, e tem sido usado por frequentadores de academias em busca de um “atalho” para ganhar um corpo cheio de músculos.
O uso de maneira indiscriminada traz riscos à saúde, principalmente em doses inadequadas de hormônios, incluindo a possibilidade de efeitos colaterais desastrosos.
“São inúmeros os efeitos adversos. Entre eles estão depressão, disfunção erétil, diminuição da libido, infertilidade, aumento da agressividade, dependência, depressão, problemas cardiovasculares, incluindo hipertrofia cardíaca, hipertensão arterial sistêmica e infarto agudo do miocárdio, e doenças hepáticas como hepatite medicamentosa e insuficiência hepática aguda. Nas mulheres ainda causa aumento do clitóris, engrossamento da voz, aumento de pelos e queda de cabelo”, destacou José Hiran Gallo, presidente do CFM.
O alerta para esses riscos foi feito em uma carta conjunta assinada por oito sociedades médicas e enviada ao CFM no final do mês passado pedindo um posicionamento do órgão a respeito do uso indiscriminado desses hormônios sintéticos.
A discussão em torno do uso abusivo das terapias hormonais estava acontecendo desde o ano passado entre o CFM e as sociedades médicas, que cobravam um posicionamento mais efetivo do órgão federal. Até então, não existia um posicionamento formal do Conselho sobre a responsabilidade ética do médico que prescreve o uso desses hormônios indiscriminadamente e sem necessidade.
“O uso de hormônios para fins estéticos e de performance é um problema de saúde pública. É importante deixar claro que ninguém é contra, ao contrário, é a nossa especialidade a reposição de qualquer tipo de hormônio para quem tem deficiência na produção hormonal. O que estamos discutindo e o CFM veio regulamentar é o uso de hormônios por quem não tem deficiência e em doses extremamente elevadas, muitas vezes combinando outras medicações para reduzir efeitos colaterais”, destacou o endocrinologista Clayton Luiz Dornelles Macedo, professor da Unifesp e presidente do Departamento de Endocrinologia do Exercício e do Esporte da SBEM.
De acordo com o texto da resolução do CFM, fica vedada a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes por inexistência de comprovação científica que sustente seu benefício e a segurança do paciente.
A norma destaca a inexistência de estudos clínicos randomizados de boa qualidade metodológica que demonstrem os riscos associados à terapia hormonal androgênica em níveis acima dos fisiológicos, tanto em homens quanto em mulheres.
“O uso indiscriminado de terapias hormonais com objetivos estéticos ou para o ganho de desempenho esportivo é hoje uma preocupação crescente na medicina e para a saúde pública”, alerta a relatora da resolução e conselheira federal Annelise Meneguesso.
Com a proibição expressa, os médicos que prescreverem o uso dos hormônios sem justificativa podem ser denunciados aos conselhos regionais de medicina, que poderá abrir uma sindicância para investigar os casos. Havendo comprovação da prescrição indevida, o médico pode ser punido com advertência até cassação.
Fonte: Agência Einstein
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