Sabe aquele constrangedor "xixi na cama" persistente que pode se estender da infância até a vida adulta? É um problema relacionado à comunicação "eixo bexiga-cérebro" e tem nome: enurese noturna, um transtorno em que ocorre a perda involuntária de urina durante o sono uma ou mais vezes por semana. Esse problema afeta cerca de 10% das crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos e pode trazer prejuízos emocionais. Mas a tecnologia tem auxiliado no tratamento e até cura do problema.
Um novo equipamento desenvolvido pelo urologista pediátrico Ubirajara Barroso Junior, secretário-geral da International Children’s Continence Society em parceria com o urologista americano Andrew Kirsch, impede a criança de urinar na cama e a condiciona a acordar quando a bexiga está cheia.
Esse equipamento está sendo objeto de um estudo randomizado e controlado na Escola Baiana de Medicina, onde Barros é professor, e foi apresentado no mês passado no Congresso Americano de Urologia como uma das dez principais inovações tecnológicas em urologia.
O novo alarme possui uma diferença importante em relação a modelos existentes, que usam sensores de umidade e emitem um alarme, mas apenas após a criança ter se molhado. Após ser colocado na criança, o sensor é capaz de identificar o estímulo para começar a urinar na cama.
Além de emitir um som para acordá-la (ou acordar os pais), ele aciona um mecanismo de neuroestimulação que fecha o esfíncter, impedindo o escape da urina.
“A criança não chega a urinar. O alarme toca antes que saia a primeira gota”, afirmou o urologista. Segundo Barroso, dessa forma, o condicionamento cerebral para perceber que a bexiga está cheia e acordar para urinar é mais efetivo do que nos alarmes atualmente disponíveis.
Veja como funciona no infográfico:
Clara, de 8 anos, conseguiu se livrar da enurese noturna após usar o dispositivo brasileiro por três meses – ela é uma das participantes do estudo conduzido por Barroso na universidade baiana. Antes disso, a menina já havia tentado todas as soluções caseiras possíveis para resolver o problema, sem sucesso.
“Eu achava que era apenas uma questão de adaptação. Tentava retirar a fralda, mas ela acabava fazendo xixi. Ela passou a usar fraldas de tamanhos maiores, até chegar ao tamanho P de fralda geriátrica. Foi nesse momento que percebi que algo estava errado”, conta.
Clara já tinha mais de cinco anos e, como a enurese noturna persistia, Maria tentou mudanças comportamentais: reduziu líquidos, levar a filha para urinar antes de dormir e colocar o despertador para tocar durante a madrugada, para levar a criança ao banheiro mesmo sem vontade.
“Devido à dependência de eu acordá-la para urinar durante a madrugada, ela não podia dormir na casa de ninguém, nem mesmo na casa dos avós”, relembra Maria.
Foi a própria Clara que viu uma reportagem na TV sobre a enurese noturna e descobriu que haveria um estudo na universidade. Maria inscreveu a filha, que recebeu o aparelho, os sensores, um manual e aprendeu como funcionava o dispositivo.
“Nem mesmo uma gota de xixi é liberada e o sensor já dispara o alarme ao detectar a bexiga cheia. Às vezes, ela não conseguia acordar, então eu a acordava. Mas os pais precisam ter paciência. Temos a expectativa de resolver o problema imediatamente, mas a solução não acontece da noite para o dia. É um tratamento gradual e demorado”, diz Maria.
O aparelho está na fase final de desenvolvimento e, de acordo com o professor Barroso, a expectativa é que até o final do ano o dispositivo seja submetido à avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser lançado no mercado brasileiro.
(Fonte: Agência Einstein)
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