Em julho de 2021, o corinthiano Leonardo Ceschini matou a sua esposa palmeirense, Érica Ceschini, após a vitória do Palmeiras na Libertadores. Leonardo alegou que matou a esposa em legítima defesa. Segundo os promotores do caso, "o denunciado agiu por motivo fútil — simples discussão familiar fomentada por rixa esportiva". Será que descontentamento com o time do coração pode motivar violência contra a mulher? Um estudo fez essa análise e o Curto vai te contar.
A economista e mestranda da Universidade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), Isadora Bousquat Árabe, analisou a relação do futebol com a violência doméstica.
O estudo intitulado “Gol Contra: Impacto das partidas de futebol na violência contra a mulher” apontou que o número médio de boletins de ocorrência referentes a incidentes de violência doméstica aumenta 7,5% quando ocorrem resultados negativos e inesperados nos jogos de futebol.
“O que denominamos resultado ‘inesperado e negativo’ é quando uma equipe que tem um favoritismo acaba sendo derrotada, não confirmando as expectativas”, descreve a economista.
Ou seja, a frustração com o time pode ser um dos fatores que contribuem para agressões às mulheres. O jogo de futebol causa um desequilíbrio de poder entre o casal no ambiente doméstico – ocasionado pela masculinidade, competitividade, rivalidade – que cria um ambiente hostil e agressivo.
A pesquisa usou dados de 135 mil Boletins de Ocorrência (B.Os) registrados nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, entre 2015 e 2019. O foco da análise foram os crimes dentro de casa, entre parceiros amorosos, sendo ex ou atual.
As datas de registro dos B.Os foram cruzadas com os resultados dos jogos do Campeonato Brasileiro das Séries A e B; ao todo, foram 3.800 jogos.
Foram consultados os principais sites de apostas esportivas, onde a pesquisadora buscou definir os resultados inesperados ou negativos, ou seja, aqueles que contrariavam a expectativa dos torcedores e apostadores. Quando a expectativa existe, maior é o choque emocional da torcida.
Isadora também consultou uma plataforma chamada “Mapa das Curtidas“, que foi desenvolvida pelo Facebook em parceria com o Globo Esporte. Esse site serve como base para entender a popularidade dos clubes em cada região do país.
Em 2011, pesquisadores da Escola de Direito da Universidade da Califórnia analisaram os casos de violência contra mulher em resultados inesperados na NFL, que é a liga esportiva profissional de futebol americano. Os resultados obtidos foram similares ao estudo da USP.
A economista também afirmou que verificou outros tipos de violência contra a mulher.
“Além da violência física, identificamos o efeito também sobre a violência psicológica contra a mulher. É importante ressaltar que a violência doméstica possui cinco formas: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial”, descreve Isadora, ressaltando que, em todos os casos, o homem figura como o ‘agressor’ e a mulher como a ‘vítima'”.
Aqui no Brasil, o Instituto Avon e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública realizaram uma pesquisa que revelou dados preocupantes. Os B.Os de ameaças contra mulheres e meninas aumentam em 23,7% quando um time de futebol local joga. A pesquisa analisou dados do Campeonato Brasileiro da Série A entre 2015 e 2018, em cinco capitais brasileiras: São Paulo, Rio, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Preocupante, né? Tais dados reforçam a necessidade e urgência de políticas públicas e ações privadas de combate à violência doméstica.
Um movimento do setor privado chamado Coalizão Empresarial pelo Fim da Violência Contra Mulheres e Meninas trabalha para a mobilização e conscientização e conta com a participação de times de futebol, como o São Paulo e o Sport.
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