Em uma cidade do Ártico canadense - em que o aquecimento global é três vezes mais rápido que em outras partes do mundo - cada vez mais ursos polares vagam famintos por consequência do degelo. Porém, a pobreza coloca em segundo plano as preocupações com as mudanças climáticas que devastam a terra e ameaçam espécies em risco. Saiba mais sobre o que acontece nesta cidade, localizada na entrada do Ártico, considerada o "ar condicionado do mundo" para cientistas do clima.
O prefeito de Churchill, de olho no potencial da mineração e turismo local, vê com bons olhos o aumento das temperaturas na região. Segundo ele, “também são oportunidades de crescimento econômico para a população local”.
A situação em Churchill reflete o que dizem os estudos científicos: o aquecimento global está pondo em risco as espécies do Ártico, especialmente ao abrir as portas a outros animais do sul.
David Daley, um criador de cães de trenó que nasceu em Churchill, é cada vez mais difícil reconhecer aquele mundo antes familiar.
A cada ano, Daley teme a chegada cada vez mais tardia da neve. “Meus cães estão esperando o inverno, como todos nós”, diz. “Isto é comum uma cultura que está morrendo”.
Aventurar-se por ali exige certas precauções: um rifle, repelente de ursos e a necessidade de caminhar em grupo após o anoitecer ou quando há pouca visibilidade. Ali todos têm uma história para contar sobre os ursos polares.
Para Daley, os humanos “não têm outra opção”: devem “se adaptar” como os animais são obrigados a fazer. A cidade tem novos radares capazes de detectar ursos a dois quilômetros das casas mais afastadas, inclusive de noite e com neblina.
“Não lembro, quando menina, de me sentir em risco durante o verão. Hoje é diferente, meus filhos não podem brincar nas pedras, ao longo da costa, como eu fazia”, diz a filha de Daley, Danielle, de 33 anos.
O desemprego, a habitação precária e a discriminação faz com que a questão climática não seja a principal emergência na percepção de muitos moradores desse assentamento. Em Churchill, 64% das crianças vivem abaixo da linha da pobreza.
60% da população é indígena (inuíte, cree, dene, métis), enquanto no total, o número no Canadá seja de apenas 5% e em Manitoba, de 18%.
Em seu boletim de março, os especialistas em clima da ONU já diziam que o conhecimento da realidade destes povos deve ser levado em conta no combate às mudanças climáticas.
Em novembro, durante a COP27, a cúpula sobre o clima da ONU no Egito, alguns ativistas vão pressionar por políticas que levem em conta práticas ancestrais indígenas, pois suas terras abrigam 80% da biodiversidade do mundo. Daley sonha com um novo começo.
“Devemos, como povos indígenas, liderar a reconciliação com nossa mãe, a Terra”, diz.
“É preciso buscar os aspectos positivos em tudo isto”, afirma o prefeito de Churchill, Michael Spence, membro do povo indígena Cree.
A presença maior de ursos polares agora atrai alguns poucos milhares de turistas a cada ano para este recanto remoto da província de Manitoba, inacessível de carro.
O prefeito sonha em transformar Churchill em um porto para o cultivo de grãos em áreas cada vez mais ao norte e, eventualmente minerais, que poderiam ser extraídos no extremo norte canadense, em particular graças ao degelo.
(Com AFP)
Leia a reportagem completa pelo UOL.
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