Que obstáculos impossibilitaram o acordo para proteger a biodiversidade em alto-mar?

Há quase 20 anos, a conservação e o uso sustentável da biodiversidade marinha presente em áreas internacionais é debatido no âmbito das Nações Unidas. Contudo, os Estados ainda não conseguiram chegar a um acordo a respeito do tema. Quais são os principais entraves desta negociação? O Curto News conversou com uma especialista no assunto - que esteve presente na última conferência intergovernamental na ONU - confere o que ela disse!

Publicado por
Isabella Caminoto

Na última sexta-feira (26), encerraram-se duas semanas de negociações nas Nações Unidas e não se chegou a um acordo para proteger a biodiversidade em alto-mar.

O Curto News conversou com Júlia Schütz Veiga – integrante da representação brasileira na conferência intergovernamental na ONU (BBNJ) – a respeito dos obstáculos que impediram a criação do acordo internacional sobre a conservação e o uso sustentável da biodiversidade marinha presente em áreas internacionais.

“os principais entraves para a conclusão do BBNJ sustentam-se na falta de homogeneização de conceitos básicos do acordo. Por exemplo, os Estados do Norte global recusam-se a aceitar a inclusão de uma definição para ‘digital sequence information’ (ou ‘genetic sequence data’), bem como de uma norma que permita o acesso e a utilização de informações digitais oriundas de recursos genéticos marinhos”.

“esquecem que o desenvolvimento de tecnologia marinha se sustenta, atualmente, em informações digitais. Sendo a transferência de tecnologia marinha identificada como um elemento transversal e indispensável para a implementação do BBNJ, não há como avançar nas discussões sem que este acesso esteja refletido no acordo”.

Júlia apontou que – somente após uma forte pressão feita pelos países em desenvolvimento – os Estados do Norte global (os mais desenvolvidos) aceitaram a inclusão de uma previsão no acordo que visa a repartição de benefícios monetários provenientes da comercialização de produtos que contenham, em sua composição, recursos genéticos marinhos de áreas marinhas internacionais.

“Todavia, o montante por eles oferecido fica muito aquém do que o mercado de biotecnologia marinha movimenta (estudos da OCDE identificam cifras na casa de bilhões)”.

“Em suma, muito mais que criar normas com alto padrão para conservação e uso sustentável da biodiversidade marinha, precisamos auxiliar os Estados em desenvolvimento a implementarem tal legislação, observando seus deveres e gozando de seus direitos”, concluiu.

A pesquisadora explicou as propostas do Brasil para um futuro acordo, ouça aqui:

Júlia Schütz Veiga é doutoranda em Direito pela NOVA School of Law (Portugal) e mestre em Direito e Economia do Mar pela mesma instituição. É, ainda, especialista em Direito Internacional pela UFRGS (Brasil) e pesquisadora do Centro de Estudos em Direito do Mar ‘Vicente Marotta Rangel’ da Universidade de São Paulo (CEDMAR/USP).

(🚥): pode exigir registro e/ou assinatura 

(🇬🇧): conteúdo em inglês

(*): conteúdos em outros idiomas são traduzidos pelo Google Tradutor

Este post foi modificado pela última vez em 5 de janeiro de 2023 18:03

Isabella Caminoto

Advogada e mestranda em Direito Internacional, tenho a democracia e a liberdade como bandeiras irrenunciáveis. Sou apaixonada pelos animais e acredito que o bem-estar do nosso planeta deveria ser o destaque diário da pauta da nossa sociedade.

Posts recentes

Mulheres da seleção inglesa utilizam IA para na escolha da equipe

O técnico principal da equipe feminina da Inglaterra, Jon Lewis, revelou como está utilizando a…

3 de maio de 2024

Apple tem grandes ambições em IA, mas com um custo menor que os rivais

Durante a maior parte do último ano e meio, o presidente-executivo da Apple, Tim Cook,…

3 de maio de 2024

AI.Dungeon: Crie RPGs e jogos de texto usando IA

O AI.Dungeon é um aplicativo impulsionado por inteligência artificial (IA) especializado na criação de histórias…

3 de maio de 2024

Civit.AI: Rede social para imagens geradas por IA

O Civit.AI é uma plataforma para a criação, exposição e treinamento de modelos de inteligência…

3 de maio de 2024

Estudo questiona validade de rankings de IA: modelos superam benchmarks memorizando, não aprendendo

Uma nova pesquisa da Scale AI levanta sérias dúvidas sobre a eficácia de benchmarks populares…

3 de maio de 2024

Microsoft fecha o maior acordo de energia renovável da história

A Microsoft acaba de assinar o maior contrato corporativo de compra de energia renovável do…

3 de maio de 2024